Infância feliz
Pedras que viram brinquedos fazem a alegria da meninada do Nordeste
Publicado
em
Lá no fundo do quintal da casa da vó havia um mundo inteiro. Um mundo onde pedras não eram apenas pedras, mas carros de corrida, panelinhas de cozinha ou até tropas em batalhas épicas travadas na sombra do pé de goiaba. Era ali, entre o cheiro de terra molhada e o canto insistente dos passarinhos, que a infância se desdobrava em magia pura.
A gente não tinha muito. Os brinquedos da loja eram para ver na vitrine e sonhar. Mas a criatividade, essa sim, brotava como mato depois da chuva. Um galho virava espada, uma folha virava dinheiro, e as pedras… ah, as pedras! Com elas a imaginação corria solta. Construíamos cidades inteiras, fazíamos disputas de quem acertava o alvo, criávamos histórias que duravam dias — e que só acabavam quando a mãe chamava pra dentro, já com a janta pronta e a novela começando.
Tínhamos tempo. Tempo de sobra pra viver devagar, pra olhar o céu deitado no chão, pra descobrir formigas carregando folhas e achar isso a coisa mais incrível do dia. A infância, naquela época, era analógica. Era feita de risos altos, pés descalços e joelhos ralados.
Hoje, quando passo por uma calçada e vejo uma pedra qualquer, sorrio por dentro. Porque sei que ela já foi brinquedo, foi navio, foi castelo. E, mais do que tudo, foi parte de uma história. Daquela história que a gente carrega pela vida inteira: a de uma infância feliz, simples e inteira, feita com pouco — mas que valia tudo.