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Ernesto Geisel

Perda de filho é uma dor que nunca acaba

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José Escarlate

Na tarde de 28 de março de 1957 o coronel Ernesto Geisel completava um ano de comando em Quitaúna. Havia uma pequena comemoração no quartel e até um jogo de basquete.

Seu filho Orlando ia para a quadra. Era magro, tinha dezesseis anos, 1,86 m, óculos de fundo de garrafa e tradição de bom aluno.

“Fui o primeiro aluno”, escrevia a um amigo, “mas isto é quase uma obrigação para mim, porque todos os outros alunos trabalham e não têm tempo para estudar.”

Decidira formar-se em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – o ITA – e deveria fazer vestibular no ano seguinte. Comprara pão para a casa, deixara a irmã estudando desenho e montara na bicicleta levando outro garoto na garupa, a caminho do quartel.

Ao atravessar a linha do trem, o jovem Orlando Geisel Sobrinho foi apanhado por uma composição e, ferido na cabeça, morreu no leito da ferrovia.

Ninguém testemunhou o acidente. Um oficial reconheceu o corpo e avisou o coronel Geisel. Ele viu o filho, foi para casa e informou a família. Em poucos meses seus cabelos louros ficaram completamente brancos.

Recusou-se a permanecer no posto. De volta ao Rio, quando a mulher colocou uma fotografia de Orlandinho num porta-retratos de prata, pediu-lhe que não fizesse.
Se via o filho nos álbuns da família, virava rapidamente a página. Passaram-se dez anos até que voltasse a pronunciar o nome dele. O bloqueio erguido em torno da tragédia foi tão grande que, por muitos anos, a família evitava mencionar o nome de Orlando na presença do pai.

Segundo Amália Lucy, a filha, “antes da morte do Orlandinho ele já era uma pessoa fechada, mas se permitia alguma vida social”. Humberto Barreto, amigo do jovem, dizia que o presidente, após a morte de Orlandinho “encaramujou-se”.

Luterano, Ernesto Geisel não buscou conforto na religião. “É uma dor que não acaba”- confessou a um amigo.

A morte do filho trouxe-lhe um sofrimento que nenhum sucesso poderia eliminar. Os dias festivos transformaram-se em jornadas de sofrimento, queria que o Natal fosse esquecido “porque minha família não está completa” – desabafou o ex-presidente, após deixar o governo, no seu depoimento a Maria Celina D’Araújo e Celso Castro.

PV

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