Tic, tac... tic, tac...
‘Perdeu, mané’ e a saída pelos fundos do Supremo
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O crepúsculo em Brasília no dia 10 de outubro de 2025 foi emocionante. Reunidos com suas capas assustadoras, os ministros do STF ouviram seu ilustre membro Luis Roberto Barroso dizer adeus aos correligionários, com oito anos de antecedência ao prazo limite. Metade da população, dizem observadores, bradou: “Já vai tarde!” A outra metade da metade, parceiros de empreitada, tentou chorar junto com ele. Ô dó…
Para usar a nomenclatura em inglês e a metáfora do tempo, fatores inimigos do demissionário, aqui ele será identificado como PM, alcunha conquistada após a resposta dada a um contribuinte em Nova York: “Perdeu, mané!” Ficará distante de seu amado parceiro matutino, AM, que dispensa acusações. No cofre de Alcolumbre estão 29. Trancadas.
O vaidoso PM, na comovente despedida, com lágrimas e soluços esfarelados, a inconfundível voz de tenor – só não é mais afinada que a de Randolfe Rodrigues – não relatou os motivos reais de sua decisão. Especulações creditam o abandono da toga aos donos do período de 12 horas (AM e PM – ante e post meridiem), na figura de Donald Trump, que está impedindo o seu habitual regozijo em Key Biscane, Miami, onde usufrui de um apartamento avaliado em mais de 20 milhões de reais.
Segundo a mesma matéria publicada, o imóvel está em nome de uma offshore, e a offshore estava, até a época da reportagem, em nome do seu filho prodígio em finanças. A conferir. O problema maior é a acessibilidade negada à adega, onde o mais modesto dos prazeres são as garrafas do californiano Schrader, safra 2016. Miami está cercada de manés, talvez tenha sido providencial Trump barrar sua presença por lá, onde a nossa polícia federal não põe os pés para protegê-lo.
Ainda no campo temporal, temos o GM – greenwich mean time – que é o senhor da ponte aérea Brasília-Lisboa. Esse a CIA está bisbilhotando seus passos. Mais experiente, escolheu um reduto onde o fuso em relação a greenwich é zero. Autoridades portuguesas desconfiam que no relógio de GM existam muitos, muitos zeros e pontos.
Enquanto no Brasil o tempo não dá trégua aos opositores da farra constitucional, há um seletivo esquecimento e desprezo ao relógio: a proibição da ação da polícia em prender traficantes nos morros do Rio de Janeiro, por exemplo, permaneceu após a pandemia, tempo suficiente para que o arsenal dos criminosos fosse abastecido; a investigação sobre o rombo bilionário dos aposentados não aconteceu imediatamente após as denúncias, com a objetividade que a PGR encontrou em uma pequena agenda desconexa de um soldado ancião acusado de golpe.
O nexo mediúnico de provas, quando é de interesse do aparelho, ultrapassa a velocidade do som . Ou a conveniente procrastinação, se o assunto não tiver tradução para o mandarim. A atitude chorosa de Barroso acende o alerta aos colegas. Aqueles que ainda podem, façam as malas. O tempo urge. AM, PM, GM, não importa o fuso. Em determinado momento será dia, em outro será noite.
Tic, tac… tic, tac…