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Os aumentos

Petrobras come pelas beiradas restinho do dinheiro do povo

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Sputnik News, com Edição de Bartô Granja

Virou rotina. Quase que dia sim e outro também, notas da Petrobras anunciam reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, acumulando alta de 50% em 2021. E vem mais aumento aí, de 6% o preço do litro da gasolina e em 3,7% o litro do diesel nas refinarias. Já o gás de cozinha terá um reajuste de 7%.

A Petrobras  justifica os aumentos dizendo que a “variação decorre da aplicação das fórmulas negociadas nos contratos de fornecimento, que vinculam o preço à cotação do petróleo e à taxa de câmbio” nos meses de abril, maio e junho.

Comentando este aumento persistente a professora da Faculdade de Economia da UERJ Maria Beatriz David explicou à Sputnik Brasil que os combustíveis são commodities, e por isso seus preços são determinados no mercado internacional.

“Qualquer variação do preço internacional vai repercutir no preço do Brasil, então se houver um aumento no preço do barril de petróleo, aqui deverá ocorrer o reajuste nos preços dos combustíveis […] Se não houver isso, haverá um impacto na lucratividade da empresa”, explicou.

Para Maria Beatriz David é preciso ter um fundo de reserva, para que quando o preço sofre um aumento significativo seja possível repassar os recursos deste fundo.

“É a única maneira de mitigar variações abruptas dos preços, que vão variar de acordo com o mercado internacional, sem possibilidade de interferência, a não ser que implique em transferências de recursos do governo ou perda da lucratividade da empresa”, ressaltou.

A professora citou que o aumento no preço de combustíveis certamente terá um grande impacto aos consumidores e na economia do país.

“O primeiro impacto é a aceleração da inflação. O Brasil é um país muito dependente do transporte rodoviário, então qualquer aumento de preço do combustível vai impactar no preço de toda a cadeia alimentar, inclusive nos produtos agroindustriais que se exportam”, comentou.

A professora ainda acredita que seja difícil haver um controle de preço, e que para isso é preciso ter alguma política mais ampla.

“Além disso, impacta na recuperação da economia, pois vai aumentar os custos, e o preço do combustível não é só impactado pelo aumento do preço do petróleo, ele é impactado também pela variação cambial, e o câmbio no Brasil está muito instável por razões externas, mas muito mais por razões internas”, explicou.

De acordo com a professora, as razões externas envolvem a mudança da política macroeconômica dos EUA e da Europa, contudo, o maior impacto é causado por razões internas, já que qualquer instabilidade política reduz a confiança, gera incerteza e tem o impacto no mercado de câmbio.

“Como eu disse, o aumento no preço do combustível vai impactar, sem dúvida, nos custos e na capacidade de crescimento econômico”, enfatizou.

Com relação ao tema envolvendo o papel dos caminhoneiros e seu papel na política, Maria Beatriz David afirmou que esta é uma crise antiga e que o Brasil não soube lidar com o problema.

“Essa crise não é nova, o Brasil enfrentou mal esta crise, nós deveríamos ter começado a reorganizar nossa matriz de transportes”, ressaltou.

“A solução é continuar subsidiando um combustível fóssil que tem impactos ambientais, que gera custos de transportes enormes, que tem perdas […] o transporte rodoviário tem muitas perdas, e apesar de ter uma agroindústria tão pujante, nós somos totalmente dependentes deste transporte, inclusive os produtos derivados e produzidos pelo setor agropecuário, que é o mais dinâmico. A mineração é um pouco menos [dinâmica], pois ela tem o transporte ferroviário, mas também tem impacto, porque há o encadeamento nas cargas”, apontou.

Na opinião da professora, o governo tem uma posição populista em relação aos caminhoneiros, que ele considera sua base de apoio, então ele tenta fazer algum tipo de subsídio cruzado, ou de cortar impostos, para ter a anuência dos caminhoneiros.

A professora afirmou que certamente a alta nos preços dos combustíveis afetará o poder de compra, principalmente dos mais pobres.

“Claro, que as pessoas perdem o poder de compra, e principalmente as mais pobres, porque elas são muito dependentes do gás, que aumenta frequentemente, e elas ainda pagam um sobrepreço, que muitas vezes não podem nem se abastecer do mercado formal, elas se abastecem de um mercado informal, que ainda tem um sobrepreço enorme sobre este produto, e no aumento dos alimentos básicos, pois todos eles são dependentes do curso do transporte, quer dizer, o poder de compra da população é afetado, especialmente das camadas menos favorecidas”, explicou.

Sobre a possibilidade de melhora nos preços dos combustíveis, Maria Beatriz David afirmou não ver qualquer possibilidade de um impacto positivo nos preços.

“Eles vão variar de acordo com a situação, a economia mundial recupera, tem impacto no preço dos combustíveis, como tem impacto positivo no aumento das commodities. Então, nós deveríamos estar aproveitando esta fase excepcional de aumento de preço-commodities para rever toda esta estratégia, não de agir só para apagar incêndio, mas sim toda a estratégia de médio a longo prazo”, concluiu.

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