Não à chantagem
Planalto vai reagindo a cenário hostil, tirando pedra por pedra do caminho
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O Supremo não é o único alvo dos aloprados. Os deputados e senadores bolsonaristas ocuparam o Congresso também para desgastar o governo, numa tentativa desesperada de retirar o protagonismo que Lula conquistou nas últimas semanas. O episódio também é uma mostra da convicção ideológica do agronegócio que preferiu manifestar solidariedade ao capitão amado a discutir o tarifaço de Trump que atinge diretamente o setor.
Mesmo com a volta à normalidade, o risco para o Planalto é que o centrão queira tirar uma casquinha do bolsonarismo para suas próprias chantagens. Afinal, mesmo derrotando o governo na derrubada do IOF em casa, o centrão perdeu duplamente, no STF e na opinião pública. O Arenão, União Brasil e PP, que são da base governista, sem nunca ter sido, foram os primeiros a farejar a oportunidade de desgastar o governo.
Assim como Arthur Lira, que se fez necessário como mediador, mostrando a fragilidade da liderança de Hugo Motta. Na vida real, isso significa que continuarão as dificuldades para ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda e aprovar a taxação dos super-ricos.
Por outro lado, a alternativa de enfrentar o centrão ao modo toma-lá-da-cá emendas pode frear a curva de crescimento da recuperação da popularidade do governo. Isso sem contar a continuidade das negociações das tarifas com Trump. Por enquanto, o Brasil tem conseguido unidade e consenso internamente e apoio internacional, dos Brics à parceiros, como a França.
Neste cenário hostil, o país tem se mantido firme em não ceder para as big techs, uma dos propulsoras políticas do tarifaço, defendendo a soberania do pix e a regulamentação das redes sociais. Mas, no frigir dos ovos, Fernando Haddad já disse que pode pôr as terras raras na mesa de negociações. E para complicar ainda mais, todo o contexto deixa ainda mais combalida a COP 30, pensada para ser o grande momento da diplomacia deste mandato. Os Estados Unidos já seriam o grande problema da conferência, mas a poucos meses do encontro em Belém, o Brasil tem dificuldades que vão desde costurar acordos diplomáticos até uma crise pelos valores das hospedagens.
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O Ponto é produzido por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile para o MST