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Dois culpados

Políticos se igualam na briga pela orfandade do roubo aos velhinhos

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Jr - Foto de Arquivo

Em qualquer lugar do mundo, é inevitável a queda de um prédio construído sob a supervisão de um engenheiro de obras prontas. E pouco importa que ele seja da direita ou da esquerda. Quando isso ocorre, o caminho mais rápido para esconder deficiências profissionais e pessoais é culpar o pedreiro do edifício vizinho. Nada de anormal para aquele que exige dos outros qualidades que ele não tem. Por isso, nunca é demais lembrar aos que se acham a última bolacha do pacote que a casa só cai quando é feita sobre um alicerce fraco para sustentá-la.

Depois do tombo, não adianta o engenheiro, o mestre de obras e o arquiteto negarem para si mesmos e para seus seguidores o fracasso coletivo. Pior é quando eles se unem e juram que vão catar os cacos e recuperar o que se perdeu. O rio não passa duas vezes no mesmo lugar. Da mesma forma, a lei do retorno nunca falha. Ela mostra que a colheita jamais é diferente do plantio. É por essa razão que, na sequência do desmoronamento da casa, o salto do sapato se desprega, caem as máscaras, o oculto se revela e a verdade aparece.

É assim também na política, segmento em que o errado está sempre certo. O telhado é de vidro, mas os políticos, notadamente os aventureiros que alcançam cargos de poder supostamente absoluto, normalmente se esquecem que nada é eterno. A superioridade de caráter e de nível que pregam normalmente viram piadas e memes nas redes sociais tão logo alguém com um mínimo de inteligência percebe que o padrão de qualidade anunciado não passa de engodo, de deslavada mentira. O recente, criminoso, maquiavélico e bilionário episódio de fraude no INSS é o exemplo da mesma raiz que apodreceu duas vezes e em árvores diferentes.

Revelado no mês passado, o esquema que desviou recursos de beneficiários da Previdência ocorreu entre 2019 e 2024. A marmota envolveu Deus e o Diabo e, portanto, não deve ser creditada exclusivamente ao governo de Luiz Inácio. Ou seja, o escândalo precisa ser dividido entre o sujo e o maltrapilho, ora representado pelo governo do presidente que teima em tentar empurrar para debaixo do tapete o mesmo lixo que não conseguiu conter em pelo menos dois anos de gestão. Aproveito a oportunidade para afirmar que só falo contra o governo anterior porque seus aliados não me deixam falar do atual.

Que me perdoem os cegos e surdos, mas o famigerado espetáculo do INSS é a prova de que hoje a Polícia Federal atua em defesa do país e do povo brasileiro e não como antes, quando a ordem era trabalhar em benefício de uma única família. É preciso reconhecer que a crise é a mesma e que o careca mentor de todo o esquema também é o mesmo. A diferença é que el carecon nunca andou na garupa de uma moto pilotada pelo atual presidente da República. O fato é que, apesar de todos os erros de sua administração, inclusive evitar criminalizar os sindicatos, Lula respondeu de modo mais decente à fraude no INSS.

Ainda que tardiamente, ele exigiu severa punição aos responsáveis, afastou suspeitos e já começou a reparar as vítimas. Quanto à repercussão, além de necessária para entendimento da população, particularmente dos aposentados, mais uma vez a fraude na Previdência Social virou guerra de narrativas entre a direita e a esquerda, isto é, o roto e o esfarrapado. Claramente as duas correntes ideológicas distorceram as informações para tirar proveito político. Por enquanto, ninguém ganhou nada. Como sempre, nessa briga quem perde é o povo.

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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