Marina Dutra
Positividade tóxica: quando pensar positivo faz mal
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Vivemos na era das frases prontas: “pense positivo”, “atraia coisas boas”, “só vibrações elevadas”. Mas você já percebeu como isso pode ser cruel quando você está mal?
Pesquisas mostram que reprimir emoções negativas aumenta em 30% o risco de depressão. Ou seja: fingir que está tudo bem pode custar caro.
Quem nunca ouviu um “para de reclamar, agradece pelo que tem” justamente no dia em que estava triste ou frustrado? Isso é a chamada positividade tóxica, uma pressão da sociedade para estarmos sempre alegres, leves, sorrindo. A ideia de que sentir dor, raiva ou medo é sinal de fraqueza.
Só que a vida real não é um feed de Instagram. Na prática, todo mundo sente tristeza, raiva, luto, insegurança. O problema é que, ao negar essas emoções, elas não desaparecem. Elas só mudam de roupa e voltam. A tristeza mal vivida vira apatia. A raiva engolida vira mágoa. O medo não reconhecido vira ansiedade.
Pense no dia em que você acordou mal e, em vez de poder falar “estou cansado”, precisou sorrir no trabalho e dizer “tá tudo ótimo”. A positividade tóxica é isso: uma maquiagem emocional que cansa e adoece.
Na raiz dela, quase sempre está o medo: medo de não ser aceito, medo de incomodar, medo de perder vínculos se mostrar vulnerabilidade. O resultado é uma crença de que só é amado quem é “alto astral”.
Mas saúde emocional não é estar bem o tempo todo. É ser verdadeiro consigo mesmo. Algumas práticas podem ajudar:
Nomeie o que sente. “Hoje estou frustrado”, “Estou com medo”, “Estou irritado”. Só reconhecer já dá um alívio enorme.
Troque o “mas” pelo “e”. “Estou triste, mas tenho que ser forte” vira “Estou triste E sei que vai passar”. O “mas” nega. O “e” integra.
Permita-se sentir. Raiva, tristeza, dor fazem parte da vida tanto quanto alegria. Não lute contra elas. Acolha e deixe passar.
Acolha os outros. Quando alguém se abre, evite frases prontas. Um simples “Sinto muito. Quer conversar?” já pode ser transformador.
Um exemplo: quando alguém perde um ente querido, é comum ouvir “seja forte”, “ele está em um lugar melhor”. Essas frases, apesar de bem intencionadas, não ajudam. Às vezes, o que a pessoa precisa é apenas chorar sem julgamento, ter alguém sentado ao lado, em silêncio, validando sua dor.
Aceitar a dor não significa se afundar nela. Significa reconhecer que ela faz parte da vida e que, assim como tudo, também passa.
A terapia é um espaço para isso: sentir sem medo, aprender a dar nome às próprias emoções e encontrar um equilíbrio que é verdadeiro, não forçado.
Porque no fim das contas, às vezes, o gesto mais positivo que podemos ter é honrar a nossa própria dor.
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Marina Dutra – Terapeuta Integrativa
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