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Sonho do gado

Povão mostra que é capaz de meter medo nos políticos de araque

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Autor/Imagem:
Misael Igreja - Foto de Arquivo/Tânia Rêgo

Mestre dos mestres políticos e raiz e caule da árvore da democracia, o sempre lembrado Ulysses Guimarães parece vivo na mente de cada um dos brasileiros que resolveu se insurgir contra o bolsonarismo. Mentor da Constituição de 1988, Ulysses morreu, mas deixou cravado na porta dos democratas que “a liberdade de expressão é o apanágio da condição humana. Ela socorre as demais liberdades ameaçadas, feridas ou banidas. Por isso, é a rainha das liberdades”. É disso que os bolsonaristas têm medo.

Como dizia Ulysses, a única coisa que mete medo em político é o povo na rua. Após a vitoriosa e retumbante manifestação nacional de domingo (21), imaginem como estão se sentindo os políticos de araque, os de quinta categoria, os eleitos na esteira das asneiras e trapaças do bolsonarismo. A população que abomina o autoritarismo e os antidemocratas mostrou que, do mesmo modo que o céu é dos pássaros e do avião, as ruas, praças e avenidas são do povão. São de todos os brasileiros e não do bolsonarismo, como eles chegaram a sonhar.

Sonhar é a palavra de ordem do gado. Fora dos acampamentos, no maldito cercadinho ou à porta dos gabinetes das diabólicas lideranças, o rebanho sonhará enquanto o rufar dos tambores do caboclo Xandão da Papuda não se perder na poeira. À espera do milagre que não virá, os seguidores do mito aguardam somente o veredito da Corte Suprema para lembrar a Jair Bolsonaro o que disse Jesus, o filho de Deus: Vá, não volte e, se puder, não PECs mais.

A recomendação também vale para os que, no fim de 2022, se assanharam contra o resultado das eleições presidenciais, consequentemente contra a posse de um presidente legitimamente eleito. Por conta disso e da série de desmandos e das barbáries diárias dos aliados da maldade bandida, milhares de brasileiros lotaram as ruas do país para mostrar que estão cansados das mazelas bolsonaristas e, sobretudo, que o Brasil não tem dono, tem leis para serem cumpridas e a expectativa de um futuro longe da pilantragem política.

A pátria é de todos e assim será até que o último remanescente do clã Bolsonaro se conscientize de sua insignificância política e social. O recado em forma de arte popular deve ser estendido aos congressistas que, em nome da oficialização da bandalheira, queriam transformar o Brasil em uma nação sem lei. Voltando a Ulysses Guimarães, “a Constituição não é perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados”.

Pensemos sem ranço e sem emoção, mas com um mínimo de razão e, com relativa facilidade, concluiremos a que desgraçados Ulysses se referiu. Passou o tempo em que o poder se ganhava por meio da força. Estejamos certos de que, apesar da desorganização do Estado, o crime organizado não se travestirá de parlamentares para garantir a eterna impunidade. Os mais velhos sabem como é árdua a luta para manter uma nação como o Brasil no trilho da democracia. A manifestação de domingo foi a prova de que o Brasil só mudará quando os brasileiros se conscientizaram de que o primeiro passo é “emparedar” o Congresso. Tomara que os reacionários, o Centrão e os patriotas de araque tenham entendido a mensagem.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais 

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