Bolso vazio
Preços disparam em mercados e mercearias e inflação corrói nordestino
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O cheiro do café ainda anuncia o dia, mas o custo do pó subiu: nos últimos meses, o preço do café moído aumentou cerca de 30%, enquanto itens como cebola e ovos registraram alta de quase 50% e 28%, respectivamente no Nordeste Ainda que em junho tenha havido uma leve queda em alimentos — tomate (-7,2%), ovos (-7,0%) e arroz (-3,4%) —, isso só interrompeu uma sequência de nove meses de reajustes, sem aliviar o bolso.
No conjunto nacional, o IPCA (inflação oficial) de maio atingiu 0,26% no mês e acumulou 5,32% nos últimos 12 meses, com o INPC, que reflete a inflação das famílias de baixa renda, marcando 0,35% em maio e 5,20% em 12 meses.
No Nordeste, o IPCA de março ficou em 0,39%, acima da média nacional, mas ainda inferior à inflação no Sul e Sudeste
Esses números parecem distantes do bolso da dona Maria, que já aprendeu a cortar da alimentação para ajustar as contas. No Nordeste, a inflação pesa especialmente em habitação, transporte, saúde e, sobretudo, alimentação e bebidas, que concentraram 85% do impacto inflacionário regional.
Um dado ainda mais alarmante: o salário mínimo regional mal cresce, enquanto a desocupação chegou a 9,8% no 1º trimestre de 2025, ante 8,6% no final de 2024, No país, a média foi 7%, mas no Nordeste a lenta recuperação média de 0,6% no primeiro trimestre é mascarada por preços que corroem a renda com mais velocidade
O impacto é brutal: seu Zé já corta refeições para sobrar gás, Camila reza para o leite render até domingo. A conta de luz aumentou 3,3% só em junho, por causa da bandeira tarifária —- menos fatia do “bolo” consumida, mais peso sobre o que sobra.
Mesmo com alguma desaceleração recente, a inflação continua corroendo salários. Com a inflação acumulada no Nordeste acima de 5% em um ano – maior que boa parte dos reajustes salariais –, a renda real cai, e os nordestinos acabam virando contadores do próprio aperto.
Apesar de tudo, o povo segue com resiliência: ajusta o carrinho da feira, substitui um alimento por outro, não abandona a coragem de enfrentar mais um mês. Porque, no Nordeste, o aperreio modifica o dia‑a‑dia, mas nunca cala a esperança.