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E lá vou eu...

Previsão do tempo para dias de Momo é de chuva de serpentina

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Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto Reprodução/ABr

Festa pulsante e inalienavelmente do povo, o Carnaval, como o futebol, é paixão, vaidade, construção, subversão, entrega, dedicação, modificação e desbunde. Tudo isso transformado em pura arte. É a mais genuína forma de arte popular. No período, até os poderosos se submetem ao Império de Dioniso, o deus do prazer. É no Carnaval que as coisas deixam de ser como são para, temporariamente, assumirem seu inverso.

São quatro dias em que as pessoas, novas e velhas, se entregam à perversão nem sempre sadia e aos prazeres carnais. Tudo isso com a certeza de que, chegando a Quaresma, todos serão salvos e novamente entregues à normalidade da vida.

Passado tanto tempo do meu primeiro Carnaval, sequer me lembro dos dias em que, como os políticos caras de pau, chegava no “velho” e sacramentava: Me dá um dinheiro aí. Nem sempre conseguia, mas tinha sempre algumas economias. Além de encontrar com a Maria Sapatão, precisava saber onde o índio conseguiria apito e descobrir pelo menos uma razão para não ter chegado lá, mesmo que a canoa não tenha virado com a vibração do olê, olê, olá.

Nunca me assumi como Mulata Bossa Nova ou Mulata Iê Iê Iê, mas, a pedido do João Roberto Kelly, esnobava no Hully Gully, na passarela e nas assembleias de condomínio das favelas suburbanas.

Noveleira que sou, normalmente nessa época incorporo o estilo Tonhão e parto para a folia consciente dos esbarrões que levarei das colegas de ocasião. Aliás, sem eles (ou elas) o Carnaval não teria graça ou brilho algum. Seria tão chocho e óbvio como a “briguinha” entre o presidente Luiz Inácio e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, cuja loucura carnavalesca é por demais conhecida até pelos fantasmas que circulam pelos corredores da Casa e assustam os seguranças, hoje denominados de policiais legislativos. Curiosamente, os tais fantasmas só aparecem em dias de sessão, isto é, mesmo mortos eles não abrem dos jetons.

Saracoteando daqui, tricotando de lá e funhanhando dacolá, é impossível não lembrar dos carnavais do tipo a barata voa, aqueles em que determinadas partes pudendas desnudas ainda causavam sensação.

Que o diga aquele ex-presidente pão de queijo. Auxiliado pelo então ministro da Justiça, ele viu uma pululando em sua direção. Não aproveitou do barato da barata, mas, justamente por isso, virou pop star entre os machos acima de qualquer suspeita da Vila Mimosa, da Rua Augusta ou do Conic, em Brasília. Morreu, mas não confirmou – e nem negou – sua entrega à lascívia carnavalesca. Cá com meus botões, acho que ficou no ora veja e lá vai mão.

Após o 49º. do entediante show de Roberto Carlos na Rede Globo, transmitido em dezembro passado, decidi recolher definitivamente ao armário o modelito tiete desvairada, produzido exclusivamente para a apresentação anual do rei. Coloquei à venda o pijama de flanela tailandesa com listras chinesas, o gorro de pelo pubiano das alpacas dos andes peruanos e as pantufas pink extraídas dos jumentos do sertão paraguaio. Cumprida a tarefa mercantil, é só aguardar a vinheta do Plim Plim e correr para o abraço.

E lá vou eu, lá vou eu. Hoje a festa é na avenida…Como o Carnaval é uma pausa na rotina, colei com cola tudo na calçola cheia de purpurina o lembrete de que a alegria é fugaz e que a paz interior deve ser duradoura.

Não sei se vai adiantar. Todavia, espero ter a responsabilidade de equilibrar a arte de ser feliz com o abadá sem presilha nas partes traseira e dianteira. O que sei é que, no Carnaval, minhas preocupações são tão reais como unicórnios voadores. Na verdade, ao longo desses quatro dias, minha única inimiga é a fila do banheiro.

Tô indo! Carnavou! De acordo com a Meteorologia, a previsão do tempo é de chuva de confete, sol de serpentina e 100% de diversão. Aproveitem e recoloquem as máscaras somente na Quarta-Feira de Cinzas. Até lá, festejem no seu mundo com a fantasia de que estão em outro. Só não vai atrás do trio elétrico quem já morreu.

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