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Já ir pagando

Prisão domiciliar é primeiro passo para reparar as dores do povo

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Autor/Imagem:
Rafaela Fernanda Lopes - Foto Acervo Pessoal

Eu estive com ela em maio, quando estava internada. Ainda não era Covid naquela época. Fiquei um mês em BH, indo e vindo do hospital, tomando todas as precauções possíveis para não me infectar com Covid e não correr o risco de transmitir para ela. Tive que vir embora com o coração em pedaços, sem poder me despedir, porque, por causa da esquizofrenia que ela tinha, me pediram para não avisar que eu estava saindo para evitar uma crise dentro do hospital.

Eu vim embora porque era necessário. Mas o que eu mais queria era ficar. A última vez que a vi foi naquele hospital.

Ela teve alta pouco depois, mandada para casa para não pegar Covid ou infecção hospitalar. E sabe o que é mais estranho? Ela pegou Covid em casa, através de uma pessoa que a visitou, um mês depois de ter alta, pouco tempo depois do Bolsonaro dizer que era só uma “gripezinha” e “não sou coveiro”.

Em agosto, ela se foi. Eu não pude me despedir. A notícia chegou de repente e eu só pude chorar de longe. E como dói. É uma dor dilacerante que queima por dentro, uma saudade que não se cala.

A prisão domiciliar foi apenas o primeiro passo. Mas não basta. Não é suficiente ver alguém como ele desfrutar de conforto enquanto tantas famílias enterraram seus entes queridos sem sequer poderem dizer adeus. Enquanto tantos caixões foram fechados às pressas, a nossa dor foi ignorada, minimizada e o nosso sofrimento foi tratado com deboche.

Eu quero vê-lo sendo responsabilizado.
Por cada vida perdida.
Por cada mãe que morreu tentando respirar.
Por cada pai que não voltou para casa.
Por cada avó que esperou por uma vacina negada.

Quero justiça por cada lágrima que não secou. Por cada grito silencioso de revolta que ainda ecoa nas casas em luto. Por cada profissional da saúde exausto, abandonado, sacrificado por uma gestão fria, negacionista e desumana. Quero que ele pague por transformar a morte em palanque, o sofrimento em espetáculo e a mentira em política de Estado.

Ele zombou da ciência. Desdenhou da dor. Se alimentou do caos. Espalhou o vírus como se fosse apenas mais uma ideologia dos opositores.

Eu não vou esquecer.
Eu não vou perdoar.
E eu não vou parar.

Por ela. Pela minha mãe. Minha maior referência de amor e força. Por cada pessoa que partiu injustamente. Por cada vida interrompida sem razão. Pelo país que sangrou. Pela verdade que ainda precisa vencer a impunidade.

Eu vou lutar.
Enquanto eu respirar.
Enquanto houver dor.
Enquanto houver memória.
Eu vou lutar até o fim.

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