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Pernambuco

Produção de apicultores em manguezais gera mel com sabor e aroma únicos

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Autor/Imagem:
Júlia Severo - Foto Divulgação

Nos estuários salinos do litoral pernambucano, entre raízes aéreas e canais que sobem e descem com a maré, um grupo de apicultores encontrou no manguezal uma fonte de renda e um produto raro. Ali, onde florescem espécies como o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), o mangue-branco (Laguncularia racemosa) e o mangue-preto (Avicennia schaueriana), abelhas africanizadas e nativas produzem um mel com características sensoriais únicas — aroma intenso, notas salinas e uma coloração que varia do âmbar ao dourado escuro.

A atividade começou há pouco mais de uma década, impulsionada por projetos de capacitação ambiental e agricultura familiar. Hoje, a produção já sustenta 50 famílias distribuídas em comunidades como Itamaracá, Goiana e Igarassu. A renda vem tanto da venda direta do mel quanto do turismo de base comunitária: visitantes acompanham trilhas guiadas, conhecem o manejo sustentável e experimentam o mel recém-colhido.

Segundo os apicultores, o segredo está justamente no ecossistema. Ao contrário das áreas de caatinga ou mata atlântica, onde o pólen é mais seco, o manguezal oferece néctar concentrado em sais minerais e compostos orgânicos específicos das plantas halófitas. “O mel tem um toque de maresia, um sabor que lembra o ambiente de onde vem”, explica José Alves, presidente de uma associação local. Ele afirma ainda que a produtividade varia conforme o regime de marés e o período de floração, que costuma se intensificar entre março e agosto.

A produção segue protocolos rígidos de manejo sustentável. As colmeias são instaladas em plataformas elevadas, evitando impacto sobre a vegetação e protegendo as caixas das inundações. A coleta é limitada para não comprometer o alimento das abelhas durante os meses de escassez, e parte do manguezal é mantida como área de refúgio, onde a intervenção humana é mínima. Além disso, o grupo participa de ações de reflorestamento com mudas nativas, fortalecendo a biodiversidade e prevenindo erosão costeira.

O potencial econômico ainda está em expansão. Amostras do mel de mangue vêm sendo analisadas por universidades e institutos de pesquisa, com resultados promissores para certificação de origem e valor agregado. A expectativa é que, com o reconhecimento oficial, o produto conquiste mercados especializados e gere ainda mais renda para as comunidades. “Não buscamos só vender mel; queremos mostrar que o manguezal não é apenas lama, é vida”, diz Maria de Fátima, apicultora há oito anos.

Enquanto o avanço urbano e a poluição ameaçam áreas costeiras em todo o país, os apicultores de Pernambuco provam que conservação e desenvolvimento podem caminhar juntos. Em cada frasco vendido, há a essência de um ecossistema e a história de famílias que aprenderam a conviver com as marés — e a transformá-las em sustento.

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