Putin parece testar paciência da Otan com drones sobre a Polônia

Na noite de terça, 9, drones russos atravessaram a fronteira ucraniana e foram parar nos céus da Polônia. Não se trata de um “erro de navegação”, como Moscou tenta sugerir, mas de um teste calculado. O Kremlin parece desejar ver até onde a OTAN suporta provocações sem reagir de fato.

O episódio é mais grave do que parece. Não foi apenas um risco para aviões civis desviados ou para moradores que viram destroços caindo em quintais. Foi um recado direto, sugerindo que se a guerra não avança no campo de batalha, ela pode avançar pelo desgaste psicológico e diplomático.

É certo que, ao cruzar o espaço aéreo de um aliado da OTAN, Putin não só desafia a Polônia, mas desafia também a cláusula central da Aliança, onde há a promessa de que um ataque a um é um ataque a todos.

A resposta imediata foi protocolar, com consultas no Artigo 4, reforço aéreo, reuniões de emergência. Mas sejamos francos: protocolos não dissuadem quem já se habituou a medir a paciência ocidental. A cada sobrevoo, o risco de acidente cresce. Basta um míssil disparado no reflexo errado e o mapa da guerra se expande de forma irreversível.

A Europa precisa decidir se quer continuar reagindo ou se pretende finalmente se antecipar. Investir em defesas aéreas integradas, criar protocolos de resposta mais ágeis e assumir que drones não são meros brinquedos, mas armas estratégicas, é o mínimo. Continuar a tratar esses incidentes como “desvios ocasionais” é a receita perfeita para a tragédia anunciada.

O recado de Varsóvia já foi dado. Para a Polônia, não se pode viver em estado de alerta permanente sem que isso cobre seu preço. O recado de Moscou também surgiu na mesma medida, como quem vai cutucar até encontrar fissura. A pergunta que fica é se a OTAN está disposta a manter a promessa feita desde 1949 . Ou se vai deixar que drones redefinam o limite entre guerra local e guerra global.

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras