Como dois e dois
Qual dos oitos réus será o primeiro a ser preso?
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Desde os velhos tempos da louca tentativa de evitar a redemocratização do país, concluída em 1985, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem como marcas registradas a mentira e a reciprocidade da desconfiança. Mesmo dormindo, ele costuma desconfiar da própria sombra. Como a desconfiança é o reflexo de uma mentira num espelho, a sombra nem sempre acredita nele. Sua tumultuada e intolerante trajetória política lembra a comparação dos homens públicos sem resultados práticos com os livros: alguns nos enganam pela capa e outros nos surpreendem pelo conteúdo.
Tenho como defeitos crônicos o ceticismo e a descrença. Por isso, normalmente desacredito das palavras. Prefiro observar comportamentos. Esses nunca mentem. Na vida, o Diabo diariamente nos oferece o prato, mas não obriga ninguém a comer. Erra quem quer. Apesar da defesa emocionada e até sexualizada de boa parte dos simpatizantes do modo de ser do ex-presidente, o que está contido na ação penal 2668 é a comprovação absoluta do comportamento delituoso de Jair Bolsonaro.
Como os delitos são indiscutíveis e soberbamente comprovados, a punição precisa ser justa. Tudo dentro do devido processo legal. É o que os ministros da 1ª. Turma do Supremo Tribunal Federal têm feito. Silenciosamente, os cinco juízes do colegiado conseguiram tirar de alguns dos advogados de defesa inesperadas confissões de culpa. Foi o caso do representante do general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa no governo de Bolsonaro.
De forma desavisada ou como estratégia combinada, o causídico implicou ainda mais o ex-presidente ao afirmar que o general atuou para demover o antigo chefe de “ofensivas antidemocráticas”. Como ordem dada é ordem a ser cumprida, o advogado do general Paulo Sérgio não foi o único a incriminar Jair Bolsonaro. De caso pensado, uns mais e outros menos, os representantes dos demais réus não só contestaram as provas e a delação do tenente-coronel Mauro Cid.
Alguns também aproveitaram a oportunidade para pelo menos desenhar nas nuvens o nome e sobrenome do comandante do torpedo golpista. É verdade que não houve explosão, mas houve a tentativa de crime. No Brasil e no mundo, ninguém precisa ser jurista para saber que o crime não exige ordem assinada. Portanto, está claro que os primeiros dias de julgamento derrubaram qualquer dúvida acerca do envolvimento de Bolsonaro na trama golpista para derrubar Luiz Inácio e a democracia.
Como dois e dois são quatro, também parece nítido que, até o dia 12, data em que deverão ser divulgadas as penas dos oitos réus, cada um deles buscará o próprio tronco salvador. Ou seja, será cada um por si. É a lei de causa e efeito comportamental. Para se livrar da cana, Bolsonaro já culpou Deus e o Diabo, inclusive os maluquinhos do 8 de janeiro de 2023. Chegou sua vez. O caminho para forca está pavimentado. Entre eles, a ordem era não se falar em corda. Faltando apenas os votos dos cinco ministros da 1ª. Turma, a pergunta agora é outra: Qual dos oito réus dará o primeiro passo no rumo do cadafalso?
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
