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Uma pequena sombra

Qual o maior susto de um gerente?

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Autor/Imagem:
Mércia Souza - Foto Francisco Filipino

Dias difíceis de pandemia, de um lado, o medo do desconhecido;  do outro, as adaptações de famílias inteiras com escola, trabalho e outros.

Alguns de nós se virava bem, criamos rotinas, algumas situações hilárias fizeram parte dessas mudanças, mas fato é que não nascemos para viver presos, esperávamos ansiosos o momento de voltar as filas gigantescas nos bancos, só para enrolar o tempo conversando com um desconhecido, brigar pelo ônibus lotado e ir ao centro em horário de pico só para ter motivos para reclamar.

Brincadeiras à parte sobre nossa rotina estressante e nem sempre necessária, ansiávamos pelo retorno aos barzinhos, restaurantes, as longas conversas ao redor das mesas com aqueles amigos que alegram nossos dias.

Graças a Deus, fim da pandemia.

Os restaurantes e lanchonetes de Cachoeiro lotavam, filas quilométricas tomavam conta dos estabelecimentos da cidade, todos queriam voltar a frequentar as noites alegres da nossa cidade.

Na avenida Beira Rio, os restaurantes e lanchonetes recebiam seus clientes com alegria, como era bom o retorno deles.

Chegamos bem cedo para encontrar uma mesa grande, para oito pessoas.

Mal caiu a noite e o restaurante lotou, calor de trinta e seis graus típico de nossa cidade, restaurante à beira do rio, movimento no calçadão, burburinho de clientes, garçons correndo de um lado para o outro para dar conta, tudo normal.

Eu, sempre atenta a tudo, tomava minha cerveja.

Uma pequena sombra se move do outro lado da rua, continuo olhando.

A sombra se movimenta rápido, é um ratinho. Observo.

Ele atravessa a rua rapidamente, entra no restaurante e segue sentido a cozinha.

Rio por dentro imaginando a cena.

Ele passa desapercebido por uma mesa, outra, por algumas pessoas, pelo garçom, ele é ágil, mas… de repente… uma mulher grita:

— Um rato!

Pronto, confusão armada.

Três mulheres se levantam gritando, dois homens tentam acalmá-las, o outro homem grita tampando o rosto, o ratinho foge para o lado contrário, direção à minha mesa, todos colocam os pés para cima gritando, o ratinho tenta voltar para a rua, o garçom tenta acertá-lo com a bandeja, ele corre de volta em direção a mesa anterior, as mulheres sobem na cadeira, uma delas que nem fazia parte daquela mesa surge gritando e sobe na mesa, o ratinho corre, dois garçons atrás dando bandejada, a mulher se desequilibra, bate na outra, um homem segura, elas se seguram, uma delas cai sentada no chão, se levanta rápido e volta para a cadeira enquanto a outra está sentada na mesa, com a bunda na comida, o ratinho enfim se safa das gritarias e bandejadas, sai na rua, carro de um lado para o outro, não consegue atravessar, um homem surge de algum lugar com uma vassoura, o ratinho entra no esgoto e desaparece.

Eu rio de doer a barriga, as pessoas assustadas tentam consertar o estrago e, nesse momento vejo um homem encostado em uma das paredes, trêmulo, pálido a ponto de um desmaio, mãos na cabeça em desespero, é com certeza o mais assustado.

Então descubro, ele é o gerente.

……………………………

Mércia Souza, mãe, avó, artesã crocheteira e escritora, descobriu sua paixão pela arte ainda na infância, possui três livros publicados, dois romances e um de crônicas e participação em várias antologias. Fundadora do projeto “Mulheres com voz” sonha com um mundo de igualdade.
Atualmente reside em Cachoeiro de Itapemirim-ES.

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