A salvação do não
Quando a negativa pode ser sinal de vida
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Dizer não é uma das artes mais difíceis que a vida nos impõe. A Antropologia nos ensina que crescemos moldados pelo desejo de pertencimento: queremos ser aceitos, reconhecidos, amados. Desde cedo, aprendemos a dizer “sim” para caber no mundo dos outros. Mas o preço desse “sim” constante é, muitas vezes, o abandono de nós mesmos.
O não, por outro lado, é ferida e cura. Dói porque carrega em si o risco do afastamento, da incompreensão, da solidão momentânea. É quase uma ruptura simbólica: recusar é desalinhar-se da expectativa coletiva. Mas o não também salva. Ele ergue fronteiras invisíveis que protegem o que é essencial. Ele nos lembra que o cuidado de si como diria Foucault é também um ato ético de resistência.
Cada “não” é, na verdade, um “sim” escondido: um “sim” à nossa saúde mental, ao nosso tempo, ao nosso corpo, ao nosso silêncio. É um grito pequeno, mas cheio de dignidade, dizendo: “a minha vida também importa”.
Aprender a dizer não é, então, aprender a existir sem se dissolver no outro. É doloroso como toda transformação, mas libertador como todo renascimento. Porque, no fim, o “não” é uma porta fechada que nos conduz de volta ao que sempre deveríamos ter sido: nós mesmos.