Relicário do silêncio
Quando lágrimas viram rios que escorrem em nossas veias
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Na ausência tua, o tempo se fez escultor de saudade,
E minha alma, mármore trincado, gemeu sob o cinzel da lembrança.
Remexi os escombros do ontem e, entre as ruínas do tempo,
Achei um relicário de papel um envelope pálido como luar esquecido.
Meus dedos, arqueólogos do afeto, desenterraram a carta
Como quem toca um fóssil de esperança ainda quente.
As palavras, quase apagadas, sussurravam tua voz
Como vento que dança entre as cortinas da memória.
Ali, repousava o amor não vivido
Um vinho selado que nunca tocou os lábios da taça.
O beijo ausente era uma estrela que nunca caiu,
Mas cuja luz ainda me alcança, mesmo morta há milênios.
Chorei.
Não com lágrimas, mas com rios que escorrem por dentro,
E minha voz, naufraga em silêncio, murmurou teu nome
Como quem reza a um deus que já virou constelação.
No rodapé da página, dois corações entrelaçados
Como raízes que nunca deixaram de crescer,
Mesmo sob o solo árido da distância.
Quarenta anos um suspiro para o amor que não conhece relógios.
Tu partiste para o céu,
Mas teu amor ainda habita os corredores do meu peito,
Como perfume que insiste em ficar mesmo depois da partida.
E tuas palavras eternas me disseram:
O amor não morre. Ele muda de morada.
Ele se veste de brisa, de sonho, de lembrança.
Ele viaja, mas nunca se despede.