Saudade
Quando o amor parte em silêncio
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Você partiu como o último raio de sol
que se esconde atrás da montanha
sem se despedir do vale.
Não houve tempestade, nem trovão
apenas o súbito silêncio
de um céu que se recusa a chorar.
Você levou consigo a permissão
de ser tocado uma última vez,
como se o toque fosse um crime
e o adeus, uma sentença irrevogável.
Fiquei com os braços estendidos no vazio,
abraçando o ar que ainda sabia seu nome.
Seu adeus não teve cerimônia,
foi um corte limpo,
como a lâmina que não hesita.
Não houve carta, nem dobra no lençol,
nem perfume esquecido no travesseiro.
Apenas a ausência
crua, nua, sem metáforas.
Foi um adeus que não pediu licença,
que não olhou para trás,
que não deixou sequer um eco
para que eu pudesse seguir sua trilha.
Foi a covardia vestida de certeza,
ou a verdade nua demais para ser dita.
Agora, abraço a miragem
de que talvez o tempo te traga de volta,
como o mar devolve conchas
que nunca pediu.
Mas minha alma, sábia e cansada,
sabe que esperar é um tipo de coragem
que sangra em silêncio.
E mesmo que eu me revista de bravura,
há um vazio que não se costura.
Seu rosto ainda paira
como um farol aceso em mar revolto,
e sua ausência espuma
nas margens do meu peito,
como ondas que não sabem recuar.