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O agradável nem sempre é gentil

Quando o Belo Também Fere

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

William Shakespeare tinha razão: às vezes, o belo é profundamente desagradável. E não porque a beleza minta, mas porque ela revela. Há coisas tão bonitas que nos ferem. Há pessoas tão encantadoras que nos confundem. Há momentos tão perfeitos que nos deixam inquietos, porque carregam a lembrança silenciosa de tudo o que já perdemos.

No plural, descobrimos juntos essa verdade incômoda: a beleza não é sempre conforto. Às vezes, é aviso. Às vezes, é confronto. Às vezes, é a forma mais elegante de mostrar o quanto ainda estamos vulneráveis.

O belo nos obriga a encarar o que gostaríamos de ignorar.

Nos faz lembrar do que fomos um dia.

Nos faz temer o que ainda podemos ser.

É por isso que certas paisagens nos emocionam até o desconforto porque vemos nelas a vida que deixamos para trás. Certos encontros nos estremecem porque sentimos que merecemos aquilo, mas ainda carregamos dúvidas sobre nós mesmos. Certas verdades ditas com delicadeza doem mais do que gritos porque a beleza, quando chega, escancara o que a dor tentou esconder.

E, como Shakespeare ensinou, o agradável nem sempre é gentil.

Às vezes, o belo cansa.

Às vezes, o belo assusta.

Às vezes, o belo expõe.

Talvez por isso tantos de nós sabote o que é bom.

Talvez por isso nos afastemos daquilo que merecemos.

Talvez por isso nos acostumemos tanto com a dor que, quando algo brilha, desconfiamos.

Mas o desconforto também é crescimento. Ele nos empurra para fora do lugar onde ficamos pequenos demais. Ele nos obriga a impedir que o medo decida o rumo da nossa história. Ele nos chama para uma maturidade que não se aprende sem rupturas.

O belo desagradável não é inimigo é espelho.

Mostra quem realmente somos, mesmo quando não estamos prontos para ver.

E é por isso que continuamos caminhando, mesmo quando a beleza fere: porque sabemos que crescer dói, mas estagnar mata.

Porque entendemos que a luz às vezes cega antes de iluminar.

E porque aprendemos, finalmente, que nem toda dor é perda algumas dores são apenas a alma aprendendo a caber na vida que está chegando.

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