Queda serena
Quando o lírio cai
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Recordo-te quando um lírio se desprende,
como agora rubro, em queda serena.
Na dança das folhas, na palavra que se curva,
no papel onde o verso repousa em silêncio.
Amei-te com suspiros que bordaram margens,
nas orlas dos teus olhos de noite infinita.
Foste meu abrigo numa tarde de tempestade,
tocada por chuvas que urgiam em segredo.
Recordo-te quando o ar se enche de murmúrios,
nas gotas frágeis que o sereno espalha,
e bastava um olhar à distância
para que meu coração partisse em busca do teu.
Ao me esquecer, é quando mais te imagino,
como quem lança galhos ao fogo
e observa o crepitar das lembranças.
Às vezes, acendo um fósforo com cuidado,
e o levo ao altar onde mora o poema,
esperando que a chama revele teu nome
nas entrelinhas do que ainda arde.