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Santana, o trapalhão

Quando policial mata manequins imaginando atirar em bandidos

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

A correria em frente à delegacia era tamanha, que até o Santana resolveu tirar o seu traseiro gordo da cadeira e averiguar o que estava acontecendo àquela hora da manhã. Era tanta gritaria, que os policiais demoraram algum tempo para entender que havia um grupo de bandidos assaltando as lojas da qudra próxima. Corre daqui, corre dali, os policiais foram entrando aos trancos e barrancos nas viaturas. O Santana, de tão moroso, quase ficou para trás, se não fosse pelos gritos alucinados do delegado Wander: “Corre, Santana!!!”

O Santana, ainda mais esbaforido do que de costume, entrou no banco de trás da viatura. Ao se sentar, espremeu os outros dois policiais que estavam ao lado, tamanho o espaço que ocupou no assento. Allan Belos Cabelos pisou fundo no acelerador, enquanto o delegado acionou a sirene. E lá foi aquele carro preto da polícia cometendo todas as infrações de trânsito possíveis. As viaturas seguiram em comboio até o local onde estariam os criminosos. Os berros desesperados dos comerciantes quase abafavam o som agudo que saía das sirenes. Enquanto um grupo de policiais entrava em uma loja, outro tentava a sorte em outra. Nessa altura do campeonato, ninguém sabia onde estariam os bandidos.

Seu Joaquim, dono da padaria, jurava que havia visto pelo menos dois, enquanto Celeste, a manicure, dizia que todos estavam fortemente armados. Todavia, ninguém conseguia descrever exatamente como eram os criminosos. Enquanto alguns afirmavam que eram todos magros, outros diziam que pelo menos dois gordinhos faziam parte do bando.

Nessas idas e vindas, eis que o Santana resolveu entrar sozinho em uma loja de roupas. Não que fosse corajoso. Pelo contrário, tinha medo até de baratas. No entanto, percebeu que ali seria um local improvável para que os assaltantes pudessem estar.

Foi até o fundo do enorme estabelecimento, onde sentiu vontade de usar o banheiro. Pois é, os efeitos do bolo de chocolate na noite anterior estavam sendo cobrados com juros e correção monetária. Assim que avistou a porta do único local que desejava estar, foi logo desabotoando a calça.

Quase não deu tempo para se sentar, quando ouviu, aliviado, o som das suas necessidades fisiológicas cumprimentando a água no fundo do vaso sanitário. Alguns respingos bateram no traseiro do Santana, mas ele não se incomodou. Ficou sentando por mais algum tempo, já que não queria que um resquício lhe fizesse borrar os fundilhos da calça.

Depois de longos minutos de espera, resolveu se limpar. Pegou um bom pedaço de papel higiênico e passou na bunda. Já estava se vestindo, quando ouviu um barulho. Logo sentiu vontade de se sentar novamente no vaso, mas a tremedeira nas suas pernas o impediu. Pegou a sua arma, que havia deixado ali no chão do banheiro e, olhando pela brecha da porta, logo notou algumas roupas balançando nos cabides adiante. Não teve dúvida, apertou o gatilho e atirou não sei quantas vezes.

Não demorou muito, a loja se encheu de policiais e curiosos. O Santana, diante de tanta plateia, tomou coragem e saiu do banheiro gritando: “Peguei os vagabundos!” O delegado Wander foi o primeiro a ir até o Santana, que lhe apontou onde estariam os bandidos.

Allan Belos Cabelos foi até o local. Fitou o delegado, que o questionou.

– E aí, o Santana acertou algum dos bandidos?

-Nenhum vestígio de sangue. Mas ele matou aqueles três manequins ali.

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