Teste de paciência
QUASE ATROPELEI PESSOAS HOJE
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Eu não sou pavoa, não costumo me elogiar, ainda mais que fui criada com minha mãe dizendo que o elogio tem de partir dos outros, nunca da gente mesma, mas não me considero má motorista.
Tem exatamente 50 anos que dirijo. Nunca aconteceu nada comigo, nunca me envolvi em nenhum acidente. Lógico que isso é pura sorte, pois dirijo aqui na minha cidade (Luziânia), além de Goiânia, Brasília e até no Rio de Janeiro, mas aqui na minha cidade é o pior lugar que tem para a gente dirigir. As pessoas andam no meio da rua, os ciclistas não obedecem a mão de direção, sempre andam em direção contrária e, muitas vezes, temos de parar para não os atropelar. Os meninos que vendem picolé, nos carrinhos, também não têm senso de direção, cachorros soltos pelas ruas, gatos, periquitos, papagaios, e outras coisas para atrapalhar.
Parece que têm mais carros do que pessoas, as ruas são lotadas, não se acha estacionamento perto de onde a gente vai e eu, em particular, às vezes, até deixo de fazer alguma coisa por não encontrar lugar próximo. Por conta da falta de mobilidade, não consigo andar longas distâncias. Então, 50 metros. pra mim, já é longe demais.
Mas, deixando as abobrinhas de lado, há seres humanos que não têm noção, ou andam no mundo da lua. E há dias em que as bruxas escolhem alguém para atazanarem. Hoje, com certeza, foi o meu dia. Hoje elas devem ter feito reunião e disseram:
— Hoje, vamos tirar o sossego daquela velha.
E foram.
Um senhor, não muito idoso, se ele tiver uns 58, 60 anos é muito. Com os mais idosos, aqueles que carinhosamente chamamos de velhinhos e velhinhas, a gente tem mais paciência, mas, com homem sacudido, a gente já encurta a boa vontade.
Esse senhor, acho que achou que estava andando em um parque, pois resolveu andar bem no meio da rua, ou ele achou que estava no início dos anos 1960, quando se podia andar no meio da rua, aqui na minha cidade, porque o trânsito de carros era quase inexistente.
Eu fui bem devagarinho atrás do moço, na maior das calmas. Você pode me perguntar: seu carro não tem buzina? Tem sim, mas eu só a uso em último caso.
Fui criada em Brasília. E Brasília, bem no começo, era “a cidade onde os carros não possuíam buzina”. Era raro algum usar buzina e, com isso, me acostumei, vendo os motoristas, que era costume não usar buzina.
Fico a pensar, será que nos anos 1960, 1970, os motoristas não usavam buzina em Brasília porque o trânsito era excelente, ou porque era uma marca registrada da cidade?
Hoje, isso ficou no passado, porque o povo usa a buzina sem dó. Que pena, Brasília perdeu este título! Eu acho falta de educação ficar buzinando à torta e à direita.
Eu tive paciência de deixar o moço perceber que eu estava atrás dele. Teve uma hora que estava bem pertinho dele, cheguei a pensar em acionar a pecinha sonora, mas ao mesmo tempo pensei: não. Depois este homem tem um problema cardíaco, dá um acesso aí, e eu vou ficar apurada.
Em tempo: na minha infância, falar que a pessoa sofreu um acesso era que a pessoa havia desmaiado.
O senhor percebeu que eu estava atrás e arredou um pouco para o lado, mas nem tchum, só saiu um pouquinho, eu ainda tive de passar bem pertinho dele.
Ê, vontade de dar uma encostadinha, só pra ele gritar que mulher no volante é perigo constante.
Fiz muita coisa na rua, parei em muitos lugares.
Na primeira vez que fui sair do lugar onde estava, já estava com o carro movimentando devagarinho, seta ligada assinalando que estava saindo, e uma mulher resolveu atravessar. Ela chegou a colocar a mão no capô do carro, tive de parar, ao contrário, atropelaria a mulher.
Pensando que ninguém ia me atrapalhar mais, eis que um casal resolveu atravessar também atrás do meu carro, justamente quando já tinha engatado a marcha à ré para sair do estacionamento, isso em outro lugar. Outra vez, tive de parar para não atropelar o casal.
Fui ao mercado e vi de longe quando um senhor, este já de mais idade, colocar o carrinho de compras bem na frente do meu carro, que estava no estacionamento.
Antes de sair, tive de ir lá, pegar o carrinho para desobstruir a passagem. Só de raiva, levei o carrinho e coloquei no lugar dele.
Fui embora pra casa, pensando que poderia ter atropelado pessoas, pelo simples fato dessas pessoas olharem pra minha cara e pensar: ela não vai ter coragem!
Sinceramente, quero ficar dentro de casa pelo menos uma semana, para as bruxas se esquecem de mim. Não é possível! Resolveram pegar no meu pé ou testar minha paciência.