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Passo à frese

Quem eu fui e quem eu sou em meio a muitas mudanças

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Autor/Imagem:
@donairene13 - Foto Produção Editoria de Artes/IA

Talvez isso aconteça com muitas mulheres. Aconteceu comigo e só percebi com o tempo. Depois que me tornei mãe, algo em mim se transformou de forma definitiva. E não foi uma daquelas mudanças que acontecem de um dia pro outro. Foi um processo lento, silencioso, às vezes doce, às vezes doloroso. Um desenrolar interno, quase imperceptível, como quando a gente se dá conta de que a infância acabou, mas não consegue apontar o exato momento em que isso aconteceu.

Não acho que a maternidade seja um sacrifício. Pelo menos, não pra mim. Seria injusto com a minha história dizer isso. O que houve, na verdade, foram escolhas. Escolhas conscientes. Escolhi acordar no meio da madrugada, abrir mão de algumas liberdades, reorganizar a vida em torno de uma nova existência. Escolhi viver cada etapa, mesmo as mais difíceis, com presença e entrega. E, ainda assim, às vezes sinto falta da mulher que fui antes.

Sinto falta de ter o tempo todo pra mim, de fazer planos que envolviam só o meu nome, de sair de casa com a bolsa leve e a cabeça livre. Sinto falta de conversar comigo mesma em silêncio, sem precisar dar atenção a ninguém por horas. Sinto falta da minha impulsividade, da despreocupação, do meu caos organizado, que hoje precisa ser substituído por rotinas e horários. Sinto falta de me reconhecer inteira, já que agora me vejo dividida entre tantas funções.

Mas aqui está o ponto mais curioso: apesar dessa saudade, eu não quero aquela antiga Irene de volta. Gosto mais da versão que me tornei. Uma versão que sente mais, que olha com mais profundidade, que aprendeu a desacelerar. Gosto da mulher que descobriu uma força nova dentro de si, que aprendeu a se adaptar, que acolhe mais e julga menos. Gosto de mim com todas as marcas que a maternidade trouxe, visíveis e invisíveis.

Não quero romantizar nada. Não é fácil. Nem todo dia é bonito. Às vezes me sinto exausta, às vezes duvido de mim. Mas se existe algo que a maternidade me ensinou foi a de me enxergar com mais compaixão. E talvez seja isso que faz com que eu prefira a mulher que sou hoje, mesmo sentindo falta de quem fui.

Porque, no fim das contas, não perdi nada. Apenas me transformei.

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