Testemunha silenciosa
Quem sou? Onde estou?
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No conto “Testemunha Silenciosa”, de Cadu Matos, publicado no Café Literário Notibras, a protagonista permanece 40 anos em silêncio, mas volta a se comunicar. Considerando que o texto foi publicado em 2025, pode-se deduzir que o lapso temporal (1985-2025) apontado no texto realista fantástico coincide com o período histórico no qual a sociedade brasileira permaneceu em silêncio quanto à anistia concedida aos torturadores da ditadura de 1964. Cabe a nós cidadãos democratas recém despertados indagarmos “quem somos e onde estamos”.
Então faço coro com a protagonista Lia, do conto de Cadu Matos, para indagar:
“– Quem sou? Onde estou?” (Edna Domenica).
A pergunta “QUEM SOU?” me lembra o enigma que a Esfinge faz para Édipo Rei e que menciona os ciclos de vida biológica humana.
(Rosilene Souza).
A partir de quando e quanto nos tornamos invisíveis?
Se dormisse e despertasse anos, anos após…
Seria a mesma pessoa? Como estaria o corpo? E a consciência?
Quanto tempo para assimilar as perdas e transformações do mundo? O que faria com as histórias passadas e não vividas?
Somos metamorfoses ambulantes? Fênix ressurgindo?
Será que o desaparecimento das memórias vem acompanhado do apagão em resposta ao fato de nos tornarmos desnecessários? Desaparecemos como uma estrela cadente, a nossos olhos luminosa e veloz? (Taís Palhares).
Em décadas passadas, o termo barbárie se referia a um passado longínquo e perdido na noite dos tempos. (Edna Domenica). Hoje me sinto aterrorizada com a realidade do mundo de guerras, disputas, vale tudo… (Tais Palhares).
Hoje, as disputas civis que sugerem o retorno à barbárie ocorrem nas redes sociais em que garantias coletivas são negadas por meio de comentários rasos . Os filósofos sofrem deboches, assim como as instituições democráticas.
Os países imperialistas incentivam as guerras seja por conquista de território ou para enriquecer indústrias armamentistas e depois se apresentam como os salvadores. A fidedignidade das notícias de eventos conflituosos dependem das fontes serem comprometidas com a paz. Mas, via de regra, interesses hegemônicos encobrem a truculência real (Edna Domenica).
Hoje, sem medo de julgamentos, estou no lugar que quero estar, raízes à mostra, crescendo e me adaptando, numa constante transformação, rejeitando o conformismo.
(Tais Palhares).
Sou sombra e luz (Taís Palhares). E para conviver com a realidade resta o luto de perdas e os resgates necessários. (Edna Domenica).
Sou a junção do ontem, do hoje e do amanhã.
( Rosilene Souza), luz e sombra na busca perene de SER. (Edna Domenica).
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EDNA DOMENICA é autora de Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), Cora, coração (Nova Letra, 2011), A volta do contador de histórias (Nova Letra, 2011), No ano do dragão (Postmix, 2012), De que são feitas as histórias ( Postmix, 2014), Relógio de Memórias – cartas de uma artesã da escrita (Postmix, 2017), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros Editora, 2024). Organizou as coletâneas: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Rocha Soluções Gráficas, 2022). Em 2024 e em 2025, publicou textos curtos individuais e coletivos no Café Literário.
ROSILENE SOUZA, mineira, desenvolve pesquisa nas linguagens artísticas: colagem, escrita criativa,fotografia e deficiência visual. Investiga o excesso de imagens e escritas consumidas e produzidas na sociedade. Participa de exposições, feiras e mostras de Arte. Tem trabalhos artísticos e literários publicados em revistas, catálogos, blogs,sites e livros. Participou das coletâneas “Do corpo ao corpus”, organizada por Edna Domenica Merola, em 2022, e “Ninguém escreve por mim”, organizada por Claudio Carvalho, em 2024. Em 2025, publica contos e ilustrações no Café Literário.
TAÍS PALHARES. paulistana, participou do Ateliê de Escrita da Biblioteca do CIC – Floripa, SC – em 2019. É leitora de ficção que sabe o que quer. Em 2025, participou do Café Literário Notibras nos textos coletivos com os títulos: “Daqueles tempos distantes como “Baby, eu sei que é assim” “, “Do interior para a senzala da cidade… e um bebê do patrão”, “Conserta-se discos voadores”, “Do que você gosta? – Quem vive sem gostar sabe sabor do desgostar”, “Algoritmos de sangue – Ébrio, sóbrio, louco? Oco, revelo-me desfilando o sonambulismo”.