Silêncio capital
Radical engole o que diz o que ninguém quer ouvir
Publicado
em
As pessoas me julgam pelo que eu falo e escrevo a respeito do político Jair Bolsonaro e sua turma de fanáticos. Imaginem se soubessem o que eu penso deles. Antes de novos julgamentos, não faço juízo de valor a respeito do cidadão Jair Messias. Ele que ofenda, xingue, ameace e tente matar quem ele quiser, desde que não se utilize dos aparatos e prédios públicos para isso. O ideal é que também não se utilizasse da ignorância aguda de boa parte da população brasileira para manipular opiniões como se fossem as suas.
Ainda não é hoje, mas provavelmente chegará o dia em que deixarei de ser maldoso com aqueles que ocultam seus prazeres de tirano no falso discurso de defensor da pátria e dos bons costumes. Aliás, bons costumes que sabidamente eles não têm. Meu problema maior é aceitar como normal as pessoas autodenominadas “patriotas” que dizem ter a cabeça aberta. Deve ser verdade. Tão aberta que o cérebro aproveitou e pulou fora. De tanto ouvir asneiras sobre o modus operandi de um tal mito, decidi ajudar os fundamentalistas desavisados.
Querem saber como? Sumindo deles ou, quando estou de bom humor, sugerindo que aproveitem a estupidez e sentem no toco cru ou então que experimentem tomate cru. Perdi a paciência com a turma que para, pensa, analisa e nunca chega à conclusão alguma. São aqueles que, mesmo nos piores momentos da Covid 19, se abstiveram de usar máscara por uma única razão: toda máscara tem uma fresta ou espaço por onde escapa o sentimento que os falsos adoram manter à distância: a verdade.
Hoje, o meu nível de ironia depende sempre do grau de absurdo que sou obrigado a ouvir. Normalmente eu concordo com os radicais, pois discordar deles faz com que continuem falando. Eis a razão pela qual, às vezes, para não ampliar o nível de falsidade como os trato, prefiro ligar meu cérebro no automático e acabo concordando com tudo que a patriotada diz. Algumas vezes, é preciso coragem para falar. Outras, é preciso mais coragem para não dizer nada. É o silêncio capital. Me perdoem os chatos, mas devo estar com Alzheimer, porque eles insistem em dar opinião que não me lembro de ter pedido.
Como não tercerizo a função de ter opinião, em determinadas oportunidades sou obrigado a aplaudir publicamente o teatro idiotizado dos seguidores daquele ex-presidente que alguns estão loucos para franciscanamente canonizar. Azar o nosso ter deixado essa gente sair da jaula. Não bastasse o fato de existirem, também querem incomodar. Essas pessoas deveriam ser iguais às atuais carteiras de cigarro e estamparem na testa a foto do mal que causam ao país que tanto dizem amar. Reitero que tento poupar o cidadão, mas o político Jair Bolsonaro é mais do que desprezível.
Talvez dois ou três zeros à esquerda. Quem sabe cinco à direita. Registro que não estou colocando defeito algum no Messias. Foi Deus quem colocou. Eu só comento! Por isso, ele, seus aliados e seguidores estão diariamente em minhas orações, notadamente na parte do “Livrai-nos do mal”. Embora não acreditem, não consigo me apegar por um sapato ou uma roupa que não é meu número. Enquanto aguardo a decisão do STF, lembro aos patriotas que toda a inveja e ódio pelos vencedores se transformem em mais votos contra os perdedores. Por minha parte, concluo afirmando que eu sou a Maria que não vai com as outras.
…………………….
Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras
