Atleta frustrado
Rebanhão desafinado deixa maluco beleza ainda mais doidão no salão da PF
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Mais velho e com os neurônios cada vez mais dando asas à minha imaginação descasada da realidade, acordei esta manhã imaginando o antes e o depois de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser pego com a boca na botija. Na verdade, com ferro na tornozeleira. Naquele inesquecível 22 de novembro, o mito deve ter acordado cantando para a vizinhança do condomínio uma antiga canção do falecido Reginaldo Rossi; “Tô doidão, tô doidão, tô doidão, bicho, tô doidão, bicho porque é hoje que eu arrebento a boca do balão”. Estava quase tudo pronto para espantar a tristeza, pegar a pistola e arrastar o pé no chão. Deu chabu e todos os envolvidos na trama golpista já se sentem tomando leitinho com tomate cru.
Nem o Chacrinha tinha visto tanta besteira junta em seu histriônico programa de calouro. Por isso, Jair foi gongado no terceiro ão do primeiro ato do maestro Xandão. Aí é que o cabra ficou mesmo doidão no meio do salão da Polícia Federal, onde chegou de camburão. Isso depois de o rebanhão iniciar a desafinada aventura em ritmo de vigília ensaiada pelo novo pastor do pedaço, o senador Flávio Bolsonaro, também conhecido por 01. Não ouvi a conversa, mas imagino que a moça da PF que inquiriu Jair sobre o derretimento da tornozeleira deve ter tido ao moço que lidar com louco é fácil, difícil é lidar com quem se acha normal.
Nada mais patético para um ex-mandatário que um dia deve ter se achado a reencarnação do imperador Napoleão Bonaparte. Considerando que há na loucura um prazer que só os loucos conhecem, misturei minha maluquez com minha lucidez e acabei com a certeza de que o Messias da Avenida Paulista e de parte da orla de Copacabana jamais será um maluco beleza. No máximo, um gênio com curso de soldador por correspondência e um frustrado atleta que desistiu da maratona antes de completar dez metros. É o preço a pagar por querer implantar um sistema de mentiras sem nenhuma verdade. Afinal, cada ideologia tem a inquisição que merece.
Em minha viagem pela mente alheia também consultei as células nervosas do aparvalhado ex-soldador e descobri exatamente o que ele estava pensando: ‘Tarcísio de Freitas vai me dar uma volta e, caso seja eleito, minha tribo bolsonarista estará em suas mãos’. Como tudo na vida é relativo, o governador paulista deve ter respondido de forma menos definitiva: ‘Diz-me com quem andas e eu te direi se vou contigo’. Tomara que isso não passe de uma hipótese azeda, imprestável e irrealizável, pois seria o fim do mundo voltarmos à fase do Brasil que não houve. Não voltaremos. É o que diz minha maluquez.
O fim de Jair é a antecipação de um estágio que já estava alinhavado, mas que dependia de costuras difíceis para concluir a roupa de presidiário que ele terá de usar em breve. A saia justa confeccionada às pressas por 01 e a sapecada na tornozeleira transformaram o dia 22 de novembro em data macabra para o clã e para o PL, partido de propriedade do Messias, mas comandado por Valdemar Costa Neto, hoje denominado publicamente de rainha da Inglaterra da extrema-direita. Diante de toda a palhaçada produzida pela maluquez familiar, o Supremo Tribunal Federal, casa de Xandão, nadou de braçada.
Com uma canetada, referendada no dia seguinte por três outras canetas, A Corte Suprema calou o choro e estancou o soluço dos ratos acostumados a culpar o queijo pelas asneiras que cometem. Voltando ao tête-à-tête com meus neurônios, fico imaginando o que a policial federal disse a Jair na conversa sobre o derretimento da tornozeleira: ‘Pois é, seu ex-sei lá o que, errar é humano, mas ser apanhado em flagrante é burrice’. Por fim, nada mais justo que eu busque uma frase do Messias para definir a vigília arquitetada por 01: ‘Pior do que a bosta expelida por Dudu Bananinha nos EUA. Enfie sua vigília, com tocha e tudo, no fundo de seus anais. Tô doidão, preso, sem meus generais de bravata e sem minha gravata de generais. Vocês não valem o que o gato enterra’. Vixe! Realmente o homem está doidão.