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Recíproca verdadeira

Recesso do Congresso esvazia páginas policiais de jornais e sites brasileiros

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Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto de Arquivo/ABr

Coincidência, convergência de fatores, protocolo casado ou apenas uma dessas casualidades que se harmonizam, mas não se explicam? Sinceramente, não conheço lógica capaz de me indicar como correta uma das alternativas acima. No entanto, a racionalidade e os fatos indicam que coincidência é o universo usando algoritmos. Como há coincidências que são coincidências demais para serem somente coincidências, faz pelo menos uma semana que as páginas policiais dos jornais e sites brasileiros estão mais leves.

Tudo a ver com o recesso do Congresso Nacional, iniciado oficialmente na terça-feira, dia 23. A última notícia envolvendo políticos fora das quatro linhas se referia a deputados do Partido Liberal como alvos de operação por contratações de aluguel com verba da Câmara. De propriedade de Valdemar Costa Neto, com cessão de direitos temporários ao clã Bolsonaro e a seus asseclas, a legenda tem parlamentares, golpistas e filiados de todas as nuances, inclusive pastores evangélicos que, travestidos de congressistas, oram diariamente pelas emendas de cada dia.

Em seus discursos a favor da bandalheira, da retroalimentação da polarização e contra aqueles que apresentam propostas sérias e coerentes, há aqueles que, em nome de uma moralidade imoral, se divertem à custa do suor do trabalhador brasileiro. Esses acumulam valores, guardam fortunas sob colchões ou dentro de caixas de sapatos e ainda encontram tempo para lustrar a cara de pau durante os debates sobre ética e patriotismo.

Consciente de que favores de políticos custam caro, sou daqueles que, quando ouço um deputado, um senador ou qualquer outro bolsonarista enaltecendo a força e a grandeza do Brasil, de imediato me vem a certeza de que eles cobrarão pelo ufanismo. Moralistas extremados, os do Centrão, notadamente os evangélicos do PL, são capazes de, camuflados com abadás dos Filhos de Gandhi, buscar apoio espiritual com as ialorixás do Terreiro do Gantois de Mãe Carmem para garantir aumento nas emendas secretas. É chover no molhado, mas, lembrando a calmaria política nas páginas policiais, vale reiterar a tese de que nem todo ladrão é político.

A justificativa para a verdade da recíproca é simples: O homem que rouba a confiança dos outros é o pior dos ladrões. A diferença é o termo. Enquanto o homem comum é preso porque rouba, o político é exaltado quando se corrompe. Como política é a ciência da corrupção, é hipócrita quem critica a corrupção genérica e em grande escala, mas pratica a corrupção cotidiana.  São os deputados, bolsonaristas ou não discutindo medidas provisórias, esvaziando os plenários e negociando secretamente mais emendas para aprovar o Orçamento da União.

Aproveitando o recolhimento de deputados e senadores a seus covis econômicos e as eleições gerais de 2026, precisamos nos conscientizar de que, se não fizermos nada, a desesperança por conta da política suja nunca acabará. Não pode haver mudança política em uma sociedade quando a voz da necessidade é silenciada pelo dinheiro sujo dos chamados homens públicos. Sintetizando, o modo inteligente para mudar a política é não permitir que os políticos continuem brincando com nossa inteligência. Quem sabe ainda aprendemos a tirar de vez os políticos das páginas policiais. Para isso, basta que tiremos os bandidos da vida pública. Simples assim.

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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras

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