Abandono
Reconstruímos o Que Eles Quebraram
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Você nos abandonou. Você escolheu outra história, outro caminho, outra pessoa. E por muito tempo, achamos que isso dizia algo sobre nós sobre o nosso valor, sobre o que merecíamos, sobre o que faltava em nós. Mas hoje entendemos: a escolha nunca foi nossa. E a perda também não.
Fomos deixados para trás sem aviso, sem explicação, sem cuidado. E ainda assim, aqui estamos inteiros de novo, mesmo depois de nos tornarmos cacos. É curioso como a vida funciona: quando alguém nos destrói, somos nós que ficamos com o trabalho pesado de recolher os pedaços. Um por um. No silêncio. Sem testemunhas.
E ninguém vê o processo. Ninguém vê a madrugada em que o peito pesa demais. Ninguém vê a crise que quase nos faz voltar. Ninguém vê o momento em que percebemos que tudo que acreditávamos ser amor era só ilusão, medo ou carência.
Fomos nós que colamos nossos próprios caquinhos. Fomos nós que seguramos nossa própria queda. Fomos nós que reconstruímos o que alguém quebrou sem nenhum cuidado.
E agora que estamos inteiros novamente, inteiros de um jeito novo, mais forte, mais lúcido, não vamos pedir desculpa pela forma como escolhemos nos remontar. Não vamos justificar o silêncio, o afastamento, os limites, a frieza ocasional. Não vamos explicar o muro que ergueram dentro da gente quando nos deixaram sem chão.
Porque quem quebrou não pode exigir beleza do conserto. Quem feriu não pode opinar sobre a cicatriz. Quem escolheu ir não tem direito de voltar para questionar quem nos tornamos depois.
A verdade é que amadurecemos. E crescemos fora da sombra de quem nos abandonou. Entendemos que o mundo segue, que a vida continua, e que o coração, por mais destruído que esteja, aprende a pulsar de novo.
Não somos mais a pessoa que ficou implorando respostas. Não somos mais a pessoa que aceitaria migalhas. Não somos mais a pessoa que esperava valorização de quem nunca soube enxergar nada.
Hoje somos o que veio depois. Depois da queda. Depois do abandono. Depois da dor.
E por isso não pedimos desculpa. Não explicamos. Não voltamos atrás.
Porque finalmente entendemos: ninguém tem o direito de criticar a forma que escolhemos para curar aquilo que nunca deveria ter sido quebrado.