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O rugir do urso

Reeleito, Putin vai esperar que Ocidente bata à sua porta

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Ekaterina Blinova/Via Sputniknews - Foto Divulgação

O presidente russo, Vladimir Putin, tem um novo mandato. Reeleito neste domingo, 17, com mais de 80% dos votos, ele ficará no Kremlin por mais seis anos. Ao agradecer a expressiva votação, prometeu manter o desenvolvimento socioeconómico da Rússia e revelou o que virá pela frente.

“A vitória do presidente é um fator determinante, dado que sob ele [a Rússia] construiu uma cadeia [tecnológica] que começa com o trabalho de investigação e desenvolvimento e termina com a entrega de armas modernas e equipamento militar às Forças Armadas”, avaliam analistas políticos.

“Este trabalho continuará, porque, como demonstrou a operação militar especial (na Ucrânia), o inimigo [da Rússia] está à procura de formas de vencer os seus modernos sistemas de armas. Ou seja, procura um meio universal ou, como dizem, uma tecnologia milagrosa que lhes proporcionará, na opinião deles, uma vitória garantida em qualquer operação militar, o que com certeza não acontecerá”, comentou o analista militar Alexey Leonkov.

Ao proferir o seu discurso na Assembleia Federal em 29 de Fevereiro, Putin criticou o Ocidente por tentar arrastar a Rússia para uma corrida armamentista, sublinhando que truques semelhantes foram usados ​​contra a URSS na década de 1980 para facilitar o seu desaparecimento.

Segundo Leonkov, a Rússia não cairá novamente nesta armadilha: em vez de participar de uma “corrida armamentista”, o país entrou numa competição tecnológica com o Ocidente, ultrapassando o ‘outro lado’ do mundo em diversas esferas. Ele se referiu particularmente às armas hipersônicas da Rússia, que são atualmente usadas na operação na Ucrânia, juntamente com os novos drones e equipamentos de guerra eletrônica (EW) de fabricação russa.

A indústria de defesa russa deverá passar por uma modernização tecnológica relacionada ao aumento do tamanho das forças armadas do país para 1,5 milhão nos próximos seis anos, segundo o especialista.

Ele espera particularmente que uma nova geração de armas hipersônicas menores seja construída para as forças terrestres, aéreas e navais. É provável que as Forças Armadas Russas também obtenham mais defesas aéreas S-500 de última geração, sistemas EW, artilharia e munições de alta precisão, bem como armas baseadas em novos princípios físicos.

Este trabalho será realizado com base em novas tecnologias, materiais modernos e nos mais recentes desenvolvimentos dos departamentos de design da Rússia, que fazem parte do complexo industrial de defesa nacional, enfatizou Leonkov.

A modernização tecnológico-militar da Rússia foi possível devido a mudanças radicais na estratégia económica do país sob a supervisão de Putin. As sanções ocidentais apenas facilitaram a industrialização da Rússia e a diversificação das suas relações comerciais, com um foco maior no Sul Global.

“A Rússia ultrapassou a Alemanha em termos de paridade de poder de compra e substituiu-a como a quinta maior economia do mundo”, disse o presidente a Dmitry Kiselev, diretor-geral da Rossiya Segodnya, grupo de mídia controlador do Sputnik, em entrevista. Putin observou que “é importante que a própria estrutura da economia mude, se torne mais eficiente, mais moderna e mais inovadora”, acrescentando que planeja trabalhar nisso, agora que venceu as eleições.

Além disso, Moscou e os seus parceiros aceleraram o afastamento do dólar americano, que há muito se tornou um instrumento de punição no comércio global.

“A Rússia tem sido vista como o carro-chefe da desdolarização, que foi iniciada pelas sanções econômicas e monetárias ocidentais, e depois acelerada ao proibir o acesso da Rússia ao sistema SWIFT”, disse Paul Goncharoff, empresário e proprietário da empresa de consultoria Goncharoff.

A decisão do Ocidente de congelar os ativos do Banco Central Russo tornou-se um alerta para os outros países, segundo o observador. “A confiança diminuiu e continuará a diminuir cada vez mais rapidamente à medida que o dólar for visto como um método inseguro para simples liquidações financeiras e como uma reserva de valor não segura”, pontuou Goncharoff.

“A Rússia não só emergiu como a maior economia da Europa hoje, mas é uma parte visivelmente vital do grupo de nações mais relevantes economicamente e em rápido fortalecimento que agora compreende os BRICS, a União Econômica Eurasiática, a ASEAN, a Zona de Comércio Livre Continental Africana, a Cooperação do Golfo, o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Organização de Cooperação de Xangai”, afirmou o empresário.

Este é um grupo geoeconômico maior do que o tradicionalmente visível e bastante audível G7, destacou Goncharoff.

“Outra forma de ver isto é que a Rússia se alinhou com as economias de crescimento mais rápido do mundo, e estas já constituem a maior parte do motor de crescimento global”, sublinhou. “Parte dessa nova metade emergente, como alternativa ao bloco ocidental, são os BRICS, que acabaram de duplicar de cinco para dez países originais em Janeiro de 2024, com o Presidente.”

As prioridades da política externa da Rússia foram articuladas por Putin em uma mensagem à Assembleia Federal, na entrevista com Kiselev e em uma entrevista anterior com o jornalista independente dos EUA Tucker Carlson, de acordo com Dmitry Evstafiev, cientista político e professor da Escola Superior de Economia da Universidade Nacional de Pesquisa.

Evstafiev delineou quatro vetores principais da estratégia externa da Rússia durante o próximo mandato de seis anos de Putin:

Primeiro, manter o diálogo com os parceiros da Rússia no espaço pós-soviético e na Eurásia, em geral;

Em segundo lugar, é claro, a realização de negociações com o Ocidente e com os Estados Unidos sobre as principais questões de segurança do mundo, que ocorrerão após o resultado das eleições presidenciais dos EUA em 2024;

Terceiro, aprofundar as relações da Rússia com o Sul Global;

Quarto, criar um novo espaço geoeconômico e um novo sistema de pagamentos sem dólares.

“A Rússia, face à falta de iniciativa por parte de outros participantes do sistema de relações internacionais, está assumindo o papel de líder na criação de um espaço de segurança geoeconômica no caso do colapso da América com sua economia global centrada”, explicou Evstafiev. “A economia centrada nos EUA poderá em breve entrar numa crise muito profunda, que já começou a tomar forma. Portanto, a Rússia criará esse espaço de segurança para, em primeiro lugar, se proteger.”

O professor observou que a Rússia só será capaz de manter um diálogo construtivo com o Ocidente se políticos sãos e responsáveis ​​nos EUA e na Europa tomarem as rédeas dos seus países e começarem a falar sobre questões de segurança e sobre a futura arquitetura das relações na Europa e na região atlântica, evitando a linguagem dos ultimatos e da propaganda. Atualmente, não existem tais políticos no comando dos principais estados ocidentais, de acordo com Evstafiev.

Por fim, o analista não espera mudanças abruptas na estratégia externa durante o próximo mandato de Vladimir Putin: “Putin não é o tipo de pessoa que faz mudanças tão bruscas e decisivas. Ele faz mudanças decisivas graduais. Todos aprendem relativamente rápido sobre as decisões que Putin toma, mas todos entendem a escala dessas mudanças três anos depois de terem sido cometidas.”

“A Rússia avançará persistentemente com os seus objetivos sem comprometer os seus interesses, que foram declarados em Dezembro de 2021”, afirmou Evstafiev numa referência aos projetos de acordos de segurança do Kremlin entregues a Washington e à Otan antes da operação militar especial. “A posição [da Rússia] foi formulada e a Rússia vai esperar até que o Ocidente coletivo se aproxime o suficiente dela para começar a conversar.”

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