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Florescer

Renascer em pétalas

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

Hoje decidi renascer.
Mal os olhos se abriram para o novo dia,
corri ao espelho e sussurrei à minha essência:
é hora de florescer.

Os minutos escorrem como rios invisíveis,
e eu seguia repetindo gestos antigos,
como quem embarca num trem sem destino,
onde todos correm, mas ninguém se vê.

Vivemos atrás de vidros opacos,
vestindo o frio até transpirar,
cancelando passos por causa da chuva,
esquecendo que o sol nasce mesmo em silêncio.

Mas hoje, fui ao jardim com mãos abertas,
e lavei meu rosto com o orvalho da alvorada.
Cada gota parecia moldada por mãos celestes,
e a natureza me ofereceu seu abraço.

A flor de lotus sussurrou segredos de juventude,
O gira sol me ofertou energia boa,
e o toque foi como um véu de veludo.
Despi-me das amarras e estendi os braços
à videira que subia em mim como poesia.

Meus pés clamavam por sapatos,
mas eu os deixei livres para sentir a terra.
Com pétalas de amor sem fim, fiz asas,
e com pétunias, pintei minhas unhas de infância.

Prendi meus cabelos com lírios da noite,
e nessa dança de pensamentos e aromas,
senti a alegria de ser outra ou talvez, de ser inteira.

Cada instante virava um colar de perfume,
e ao olhar minha casa, tão fechada,
decidi abrir todas as janelas,
deixar o vento entrar e levar o medo embora.

Ao cruzar a sala, vi outra mulher em mim,
e quis gritar ao mundo:
não vivam com receio dos ladrões de sonhos.
Eles podem levar objetos,
mas jamais arrancam a esperança.

Devemos cuidar de nós com ternura,
sem nos esconder do mundo,
preservar o que é íntimo e verdadeiro,
sem trocá-lo por brilhos sem alma.

É difícil, sim. Mas não é inalcançável.

Não podemos passar os dias
erguendo muros contra o invisível.
O que deixamos ao Divino?
Ele não invade, apenas espera ser convidado.

Sinto a brisa secar minha máscara de pepino,
e as flores em meus cabelos exalam gratidão.
Acredito na magia de viver,
onde cada raio de luz é uma poesia,
e cada pássaro pousado nele, uma nota de canção.

E eu canto… canto!
Em uníssono com a vida,
agradecendo por sentir, por despertar,
por poder rezar pelos que ainda dormem.

Pelos que vivem na cidade do medo,
pelos que não se permitem o sol,
pelos que não compreendem os que dançam com a alma.

Vou estender minha toalha bordada com lembranças e versos,
tomar um chá de rosas vermelhas recém-colhidas,
e se quiser partilhar minha loucura, te convido:
traga biscoitos de ternura,
porque aqui só há nuvens doces
cheias de néctar e afagos.

Talvez não mudemos o mundo,
mas podemos perfumar a humanidade
com pétalas de poesias.

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