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União faz a força

Resgate de Caramelo deve servir de lição para os animais racionais

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução/ABr

Em nome do amor ao próximo, mais uma vez prefiro a seriedade ao riso. Isso não quer dizer esquecimento a respeito do que penso sobre aquele brasileiro que se acostumou a usar somente xampu próprio para mitos, que são aqueles produtos feitos sob medida para quem tem bosta na cabeça. Felizmente, os fatos mais recentes têm contribuído para o fim de uma suposta e bestial hegemonia do povo conhecido pelo nariz em pé. Está escrito que, qualquer que seja a lição, o ser humano só dispõe de dois caminhos para aprendê-la: o amor e a dor. Infelizmente, a segunda opção foi a escolhida por Deus para acordar uma sociedade que historicamente só admirava o próprio umbigo.

A tragédia climática do Rio Grande do Sul não deve ser avaliada como um problema pontual ou pessoal. Assim como ela atingiu potencialmente um estado há décadas governado pela direita – hoje pela extrema-direita -, nada impede que governadores pendulares ou de esquerda também sejam atingidos por catástrofes semelhantes. Coloquemos os joelhos no milho e peçamos a Deus para que isso não ocorra com mais nenhum brasileiro. No entanto, recorrer ao Mestre não é a única solução. Na maioria das vezes, boa parte dos governantes, dos governados e dos fazedores de lei esquecem de fazer sua parte.

Esquecem, sobretudo, que o negacionismo mata, divide, empobrece e destrói. Lamentável, mas é comum os “patriotas” atravessarem a fronteira intestinal do cérebro e creditar as mazelas do clima ou do meio ambiente à esquerda. Pois antes mesmo de a água baixar, a realidade sacudiu a poeira podre da direita. Há na Câmara dos Deputados uma série de projetos de lei contra o ambiente. Mais da metade do chamado “Pacote da Destruição” é de autoria de deputados do Partido das Lágrimas, O PL de Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto, com apoio direto do PP de Arthur Lira. As duas legendas também relatam a maioria das propostas.

Conforme levantamento do jornalista José Roberto de Toledo, a ideia é não deixar uma árvore de pé. Segundo Toledo, pelo menos dois desses 25 projetos são para acabar com o financiamento do Ibama, que é um dos principais órgãos de fiscalização ambiental. “O deputado gaúcho Jerônimo Goergen tem obsessão em acabar com o Ibama. Ele tem um projeto que esvazia completamente as funções e o cofre do Ibama”. As demais propostas são para flexibilizar as regras, facilitar a vida dos destruidores e das pessoas que grilam as terras. Ou seja, tudo em favor dos que defendem a destruição do país. Eles não sabem e não querem saber, mas alguma coisa de muito estranho está acontecendo no Brasil.

Um dos maiores símbolos da enchente no Rio Grande do Sul, a imagem do resgate de um cavalo de 350 quilos aninhado sobre o telhado de uma casa de Porto Alegre correu o mundo. Ele foi salvo pela união dos bombeiros de São Paulo e do Sul, da Brigada Militar e de centenas de voluntários. Sem comer e beber água há mais de cinco dias, o desejo de se salvar do animal irracional contrasta com os animais racionais que se aproveitam da tragédia para saquear residências abandonadas ou destilar veneno por meio de fake news absurdas, algumas transformadas em reportagens televisivas e em projetos políticos para a bandalha bolsonarista. O fato é que o exitoso resgate símbolo da tristeza gaúcha ajudou a resgatar meu orgulho de ser brasileiro.

As cenas mostraram que, muito mais do que a divisão imbecil e elitista defendida pelos animais pensantes, é a união que faz a força. Sem a preocupação de um saber da ideologia do outro, o cavalo “Caramelo” foi salvo pela união de forças. Torço para que, tão logo a água comece a baixar, o exemplo seja copiado pelo povo brasileiro, principalmente por aqueles mais radicais na busca do confronto e na defesa de dois ou mais Brasis. Oxalá a turma do xampu dos mitos um dia se orgulhe de ser brasileiro do Brasil e não do Jair das profundezas. Parem, pensem e ajam como os dirigentes da Ambev de Viamão. Eles pararam a produção de cerveja para envasar água potável para doação à população do Estado. Parabéns Ambev! Além do meu fígado, vocês agora têm meu coração. Quanto a gauchada do bolsonarismo, com todo respeito à dor, Sementem ut feceris, ita metes, isto é, Cada um colhe conforme semeia.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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