Fraude
Resgate de um episódio envolvendo um ‘patrioto’ e um ‘esquerdopata’
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– Fraudadas! O mito tinha razão: as eleições foram fraudadas!
Quem vociferava isso, cuspindo saliva pelos cantos da boca, era um cara baixinho, vestido com uma camisa da CBF – velha, com nome e número do Cafu – rasgada, e um calção cor de burro quando foge para (não) combinar. Seu interlocutor vestia uma camiseta com a foto de Donald Trump e os dizeres Make America Great Again. Ou seja, tratava-se de um perfeito patriota brasileiro.
Tentando desviar-se da saraivada de cuspe, o patrioto observou:
– Cidadão de bem, fraudadas como? A gente teve até mais voto do que esperava…
– Fraudadas sim! Eu soube, por um homem de bem, um patriota, que houve quem tentasse colar os números do adversário, para impedir o voto nele.
Foram presos fazendo isso, mas basta um caso, basta a tentativa pra gente exigir a anulação das eleições.
– Também soube desse caso, cidadão. Mas foi gente nossa que tentou passar cola no 1 no 3, para impedir o voto no Lula.
– Tanto faz! O mito nunca disse que a esquerdalha ia fraudar as eleições, disse que ia haver fraude. E houve! Vamos pedir a anulação da
coisa toda e mais 4 anos de governo do messias, que veio ao mundo para nos salvar.
– Mas cidadão, o Exército está verificando e parece que não houve fraude…
– Exército de vira-casacas! De traidores do mito! Vamos mandar o exército pra Cuba!
A essa altura, o patrioto, que pertencia ao conselho dos cdb (cidadãos de bem), interrompeu a conversa e chamou três seguranças, apontando discretamente para a cobra cuspideira.
Ele foi levado, debaixo de porrada, para um hospício, enquanto denunciava, aos berros, o tratamento dado a um cidadão de bem pelos comunas infiltrados na organização. Foi internado mas, como a guerra ideológica não para, o patrioto lhe atribuiu o nome falso de Petraglia.
Tadinho, não era petralha, não passava de um bolsomínion um tanto mais louco que o restante do gado.