A tragédia se repete
Rio em chamas na guerra ao tráfico deixa 20 mortos
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O sol ainda mal havia rompido a névoa sobre os morros do Alemão e da Penha quando o Rio amanheceu sob o som das sirenes e dos helicópteros. A cidade, que já se acostumou a acordar com tiros, viveu nesta terça-feira, 28, mais um capítulo de sua tragédia sem fim. Pelo menos dois policiais civis e dezoito criminosos tombaram durante uma megaoperação que mobilizou 2,5 mil agentes civis e militares, em busca de integrantes do Comando Vermelho (CV) — uma caça que, como tantas outras, terminou em sangue.
Os becos e vielas se transformaram em trincheiras. Drones sobrevoaram o céu lançando bombas — o absurdo tecnológico a serviço da barbárie. Nas ruas, o cheiro de pólvora se misturava ao medo, e os gritos de ordens se confundiam com o desespero dos moradores enclausurados em casa, como se o tempo houvesse parado no instante em que o caos começou.
Entre os mortos, o policial Marcos Vinícius Cardoso Carvalho, da 53ª DP, foi confirmado pelo Hospital Getúlio Vargas. Seu nome agora se soma à longa lista de homens que caem no front urbano de uma guerra sem nome, em uma cidade que parece condenada a chorar seus filhos — sejam eles fardados ou não.
Em coletiva, o governador Cláudio Castro (PL) tentou dar contornos racionais à tragédia. Falou em 31 fuzis apreendidos, em 56 presos, em retaliações possíveis e vias interditadas. Mas por trás dos números frios, havia o eco das balas ainda ressoando nos morros, o medo se espalhando pelas avenidas, e o pressentimento de que o Rio sangra um pouco mais a cada operação.
“Estamos em estado de atenção e alerta”, disse o governador. Mas para quem vive nos complexos do Alemão e da Penha, o alerta nunca se apaga. A cidade dorme em sobressalto, e o Rio — esse palco de beleza e tragédia — segue dividido entre o brilho do mar e a escuridão das armas.