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Rodas da Paz pedala em busca de bicicletas para crianças carentes do DF

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A cena se repete há 11 anos. Voluntários da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, de Brasília, reúnem-se para recolher, reformar ou reparar bicicletas, que distribuirão a crianças carentes. O tempo e os recursos pessoais empregados são recompensados pela reação de quem vê realizado o sonho de ganhar uma bicicleta.

“Nossa recompensa é ver o sorriso das crianças e das pessoas que ajudamos”, disse o presidente da ONG, Jonas Bertucci. Adepto do uso da bicicleta como forma de encurtar distâncias, exercitar-se e tornar as cidades mais humanas, o sociólogo integra a Rodas da Paz há quatro anos e garante que os projetos sociais, como a doação de bikes, já lhe proporcionaram muitos momentos marcantes.

“A recompensa é ver a reação da criança quando ela recebe um brinquedo que, para a maioria, é básico, mas que ela não teria condições de ter. Ou a expressão da mãe que, todos os dias, pedalava cerca de 30 quilômetros por uma rodovia movimentada, com a filha na cadeirinha, usando uma bicicleta velha e sem nenhuma manutenção, que nós pudemos consertar e deixar em melhores condições de uso e de segurança”, lembra Bertucci.

A campanha Doe Bicicleta não se restringe ao Natal. No último Dia da Criança, por exemplo, foram distribuídas 40 bicicletas reformadas para crianças atendidas pelo Projeto EducAmar, da Casa de Paternidade, do Riacho Fundo 2, cidade do Distrito Federal. Ao longo de todo o ano passado, foram distribuídas cerca de 300 bicicletas. Este ano, a expectativa é aumentar para 400 as bikes reformadas e doadas. E, se possível, chegar a 500 até o início do ano que vem.

O presidente da ONG reconhece que as doações aumentam com a proximidade das festas natalinas. Por esse motivo, parte das contribuições só fica pronta e é distribuída em janeiro.

“É muito bonito isso que essas pessoas fazem. É uma forma de dar carinho a essas crianças, que elas nem conhecem”, diz Ruth Marisa Paphigua, mãe de uma menina de pouco mais de 1 ano que, no último Dia da Criança, ganhou sua primeira bicicleta. Orgulhosa, Ruth conta que a filha, “esperta para a idade”, está aprendendo a pedalar com a ajuda de rodinhas. E que as outras crianças contempladas ficaram radiantes de alegria. “A pena é que nem todos ganharam. E os que não receberam até hoje perguntam quando terão as suas.”

O desafio dos voluntários da ONG é sensibilizar mais pessoas a colaborar, doando as bicicletas abandonadas, empoeiradas e sem uso, como fez o auxiliar de farmácia Cleanto Pinto de Menezes Júnior, morador de Samambaia. Ele já conhecia a iniciativa por ter participado de passeios ciclísticos organizados pela Rodas da Paz. Em novembro, Cleanto doou duas bicicletas de criança para o projeto.

“Uma das bicicletas eu comprei para o meu filho quando ele era pequeno. Foi com ela que ele aprendeu a pedalar e eu ainda lembro como ele ficou feliz na época. Então nós pensamos: por que não proporcionar essa alegria para outras crianças?’”, conta Cleanto, explicando que a outra bike, feminina, pertencia a uma vizinha a quem ele convenceu a doar. “Acho uma iniciativa muito interessante e, se pudesse contribuir mais, faria. Acho que as empresas e entidades do Distrito Federal poderiam apoiar essa ação.”

Para doar, não é preciso sair de casa, a ONG se encarrega de buscar as bicicletas. Desde novembro, os sábados de Raphael Barros, secretário executivo da Rodas da Paz, são dedicados a lotar a Suzuki Samurai verde-escura de bicicletas doadas. Até o início da tarde do último sábado, ele já tinha recolhido 15 – sete delas doadas pela família do funcionário público Luís Antônio Guerra. O filho dele, o engenheiro agrônomo Vinícius Dias, foi quem recebeu a ONG em casa.

“Quando mudamos, eu e minha família deixamos de usar as bicicletas por falta de lugar para pedalar. Meu pai soube da iniciativa e decidiu doar todas as nossas bicicletas para quem precisa”, diz Dias. “Elas estão todas em bom estado”, garante.

A Rodas da Paz não faz doações a pessoas. As bikes são entregues sempre por meio de instituições parceiras, sejam escolas da área rural ou entidades assistenciais e comunitárias. Como nos anos anteriores, parte das bicicletas reformadas é repassada aos Correios, que atende aos pedidos feitos por cartas enviadas por crianças que pedem presente ao Papai Noel. Este ano, a comunidade beneficiada pelo Papai Noel dos Correios será a Kalunga, de Cavalcante (GO), formada por descendentes de quilombolas.

As outras bicicletas são entregues a estudantes da área rural ou a instituições sociais. Além disso, peças sem condições de uso são reaproveitadas na construção de bicicletas adaptadas a pessoas com deficiência e em projetos de geração de renda, como cursos de mecânica básica oferecidos a comunidades carentes.

Normalmente, os próprios voluntários buscam as doações, com seus carros e no tempo livre. Em parte, para estimular e facilitar a doação, mas também porque a ONG não dispõe de um local para receber e guardar as bicicletas. Para resolver esse problema, a organização decidiu optar pelo financiamento coletivo a fim de conseguir levantar os R$ 3 mil necessários para construir um galpão que abrigue todo o material recebido.

“Assim, as pessoas poderão nos visitar, conhecer melhor o projeto e outras iniciativas da ONG e, se quiserem, levar elas próprias as doações”, explica Bertucci. O galpão ficará em Vicente Pires, onde funciona a oficina do mecânico que já ajuda a consertar as bicicletas. Todo o dinheiro que o grupo conseguir arrecadar será usado na ampliação da estrutura. A proposta é, com o tempo, criar um espaço multicultural.

Alex Rodrigues, ABr

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