Entrevista com o escritor
Ronaldo Ferreira de Almeida, o escritor de facetas múltiplas
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O entrevistado de hoje é o talentoso autor Ronaldo Ferreira de Almeida, cuja bagagem literária é bastante extensa. Dono de uma escrita envolvente, rica e acessível, suas personagens, que poderiam ser encontradas em esquinas, bares e no dia a dia do leitor, trazem reflexões sobre a vida. Poeta também, Ronaldo consegue falar de temas importantes e urgentes como quem sabe dialogar com o erudito e o popular.
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Eu sou o Ronaldo Ferreira de Almeida. Nasci em Niterói e moro em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Entrei para o mundo literário com o livro O amor deitou âncora (Multifoco. 2013. RJ), com apresentação do Aldir Blanc e prefácio da escritora Dra. Maria Celeste Machado (UERJ).
Lancei o livro Concertos Poéticos Para Dias Melhores (Apologia Brasil. 2025). Comentários da Ana de Hollanda, cantora, compositora e ex-ministra da cultura, Antonio Cicero (ABL), Marcelo Mourão ( UERJ) e Victoria Troianowski Saramago (Stanford). Eu sou um dos colaboradores do portal da Agência de Notícias das Favelas. Eu participei de algumas Antologias Nacionais e Internacionais, editadas no circuito literário entre Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Bahia e Portugal.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Eu descobri a poesia através dos cadernos de poemas das minhas irmãs. Eu os pegava escondido para lê-los. E, também, através dos livros do meu pai.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
A inspiração surge dos temas mais variados: amor, temas sociais e existenciais. A vida se apresenta e, diante do espanto da vida, eu escrevo sobre a beleza do que vejo ou sobre o fato que me causa indignação. Mas, em ambos os casos, busco a Estética dentro das narrativas. O melhor da escrita.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Existe a formação das Universidades. Os livros clássicos são fundamentais. No entanto, há uma formação que é imprescindível na construção de um poeta e escritor, a percepção da vida e do outro. Eu só sou eu, sendo tu, como bem afirmou Martin Buber.
Quais são os seus livros favoritos?
Crime e Castigo (Dostoiévski), Metamorfose (Franz Kafka) , A morte de Ivan Ilitch (Liev Tolstói), O velho e o mar (Hemingway), Os Miseráveis (Victor Hugo), O Retrato de Doryan Gray (Oscar Wilde), A morte e a morte de Quincas Berro D’água (Machado de Assis) , O Cortiço ( Aluísio Azevedo) , O Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto), Vidas Secas (Graciliano Ramos), A Hora da Estrela (Clarice Lispector) , Viagem (Cecília Meireles), Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus), Bagagem ( Adélia Prado), entre outros…
Quais são seus autores favoritos?
Citarei alguns: na poesia: Vinicius de Moraes, Neruda, Bandeira, Ariano Suassuna, Drummond, Fereira Gullar, Affonso Romano de Sant’Anna, Cecília Meireles, Marina Colasanti, Adélia, Hilst Hilst, Conceição Evaristo, Betine Daniel e Marcelo Mourão.
Na crônica:
Carlos Eduardo Novaes, Rubem Braga, Dalton Trevisan, Aldir Blanc e Rubem Alves.
No Romance:
Rubem Fonseca, Chico Buarque, Rodrigo Santos, Itamar Vieira Júnior.
Na Filosofia: kant, Kierkegaard, C.S.Lewis, Sueli Carneiro, Milton Santos, Abdias Nascimento, Nei Lopes, Bárbara Carine, entre outros.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
A inspiração, quando chega, é algo sublime. Quem é poeta sabe… somos levados para uma outra dimensão. No entanto, se a inspiração não chega, eu faço a minha parte. Neste caso é mais transpiração, como disse um poeta. Não que a inspiração não esteja presente. Mas talvez somente me observe, nestes casos (Risos)
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
O tema mais presente é o amor. Talvez seja a influência de poetas como Vinicius e Neruda. Quando adolescente, eu os lia muito. Talvez isso tenha ficado forte na minha escrita: a influência desses dois poetas maravilhosos. A Ana de Hollanda, querida amiga, escreveu em um dos comentários do meu mais recente livro: Concertos Poéticos Para Dias Melhores, que eu sou dessa escola , desses dois poetas. Ela tem razão .
Para você, qual é o objetivo da literatura?
A literatura serve para dar beleza ao mundo. Serve para trazer um outro olhar ao leitor. A beleza de um texto de Dostoiévski, por exemplo, pode fazer repensar a vida. Um poema do Drummond faz o indivíduo ver a vida de outra maneira. Ninguém consegue ler um livro da Clarice Lispector e continuar a mesma pessoa.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Terminei de reunir poemas para o meu terceiro livro de poemas. Ele contará com alguns comentários de pessoas as quais admiro.
Como você gostaria que seus leitores enxergassem sua obra?
A obra de um poeta que busca extrair o melhor da construção das palavras. Sendo num poema de amor ou de consciência social.
Como é ser escritor hoje em dia?
Ninguém vive de literatura. Eu me refiro à venda de livros. É aquela pergunta que Affonso Romano de Sant’Anna me fez:
– Ronaldo, você conseguiria viver sem escrever?
-Não, isso seria impossível, eu disse.
O escritor escreve porque precisa dizer algo. Gritar ao mundo! Ele sente que precisa contribuir com a sua escrita.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário do Notibras?
É um trabalho de extrema delicadeza e respeito aos escritores. Existe uma equipe empenhada para fazer o melhor. No final, quem sai ganhando com isso é a Literatura.
Eu admiro o trabalho do Café Literário do Notibras, há tempos.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
O que você diria para os jovens poetas?
Eu diria: Leiam! Leiam muito! A mesma dica que me deram Marina Colasanti, Maria Celeste Machado, Henrique Alves e Aldir Blanc.
Não há como escrever bem sem o hábito contumaz e cotidiano da leitura.