Rei do pedaço
Santa Catarina vira paraíso político para oportunismo bolsonarista
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Seja de onde for, venha de onde vier e vá para onde quiser. É o direito de ir e vir do povo, que, desde que não exceda seus próprios limites, pode ser e fazer o que bem entender. Eis a razão do problema criado por uns para atingir milhares de milhões de cidadãos. Em relação à política, a perda de limites gera ilimitada falta de princípios, de valores e de virtude. Atribuída ao imperador romano Júlio César, a frase “Dê pão e circo ao povo e ele nunca se revoltará” deve ter sido cunhada para determinados aglomerados populacionais do Brasil, os quais, por não se respeitarem como eleitores, acabam desrespeitando todos os brasileiros.
Um dos estados mais conservadores do Brasil, muito mais que o Rio Grande do Sul à época do separatismo, Santa Catarina parece ter se transformado em lugar ideal para os experimentos da extrema-direita. Liderada pelo servil e bajulador governador Jorginho Mello (PL), a Assembleia Legislativa local, de maioria extremista e de pautas exclusivamente conservadoras, é pródiga em projetos contra setores progressistas, notadamente as universidades. O argumento é que alunos e professores desrespeitam a pluralidade de opiniões e o caráter privado dessas instituições.
Além de medíocre, a manifestação de um governador e de parlamentares vinculados a Jair Bolsonaro soa como hipocrisia das mais pueris. Ela prova que a ordem de cima para baixo e de um lado para o outro é impedir que as opiniões divergentes sejam expostas e discutidas abertamente e que, principalmente, alcancem o povo catarinense. Pior é saber que o mesmo PL que cobra liberdade e pluralidade até hoje não respeita o resultado das urnas na eleição de 2022.
Cargas vivas dos caminhões do agronegócio bolsonarista, boa parte dos catarinenses ou perdeu a vontade de pensar e de votar livremente ou decidiu abrir mão de todos os seus valores do passado. Prova disso é que a qualquer aventureiro recém-chegado ao Estado basta se apresentar como bolsonarista para virar o rei do pedaço, inclusive com direito à mão da rainha. Filho caçula de Jair Messias, Renan Bolsonaro, o “Tiririca”, nunca soube o que faz um político. E daí? Com expressiva votação, em 2024 ele foi eleito vereador da cidade de Balneário Camboriú.
O próximo do clã a aportar em terras açorianas será o vereador Carlos Bolsonaro, conhecido nos bastidores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro como “Carluxo” e “Tonho da Lua”. Carluxo quer impor ao PL sua candidatura ao Senado por Santa Catarina. Na esteira, Renanzinho será candidato a deputado federal. O que será que esse Estado sulino tem de tão bom? Com todo respeito aos barrigas-verdes e aos manezinhos, nada além de adorar entulhos como Renan, Carlos etc. A exemplo do pai, ambos devem achar que o Estado é a salvação de um bolsonarismo cada vez mais isolado, derretido e bem próximo do naufrágio total a partir do mar catarinense.
Sem conteúdo, propostas e com ideias tão ultrapassadas como o pai, “Tiririca” e “Tonho da Lua” são exemplos de que os oportunistas se valem da desinteligência alheia para montar seu circo. Santa Catarina parece o paraíso político para uma família de valores antigos vivendo em um mundo moderno. Apesar da apodrecida consciência de parte dos catarinenses, não será fácil para “Tonho da Lua” tentar se escorar na terra de Leonardo Boff e de Zilda Arns. Seguindo os ensinamentos de Platão, os barrigas-verdes conscientes sabem que pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias e pessoas medíocres falam sobre pessoas. Como pessoas inteligentes sabem o que querem, “Tonho da Lua” provavelmente terá de cantar em outra freguesia.