Novos ares
São João no Sítio do Picapau Amarelo deixa Sudeste e desembarca no Nordeste
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No mês de junho em que o vento cheira a milho assado e fogueira acesa, o Sítio do Picapau Amarelo se transformou, deixando o longínquo Sudeste e se instalando no Nordeste.
Não era mais apenas o pacato lugar de sempre — virou arraiá! Bandeirinhas coloridas tremulavam nos varais, o cheiro de canjica e pamonha invadia a casa-grande e até o Visconde de Sabugosa trocou a cartola por um chapéu de palha.
— Emília, você viu onde deixei os bombons de amendoim? — perguntava Tia Nastácia, entre uma fornada de bolo de milho e outra.
— Vi, sim! Comi três… ou quatro… por engano científico! — respondeu a boneca, lambendo os dedos de pano.
Narizinho estava empolgada com o vestido de chita novo, rodopiando pelo quintal. Dona Benta, de cadeira na varanda, sorria vendo tudo, os olhos brilhando de lembrança dos seus próprios São Joões da juventude.
— Mas esse São João promete! — disse o Visconde, consultando um calendário improvisado feito com palhas de milho.
Logo começou o forró, puxado por um trio pé de serra vindo diretamente do Reino das Águas Claras. Até o burro falante do Marquês de Rabicó se animou e tentou dançar quadrilha — uma cena tão atrapalhada que fez todos caírem na risada.
— Olha a cobra! — gritou Pedrinho.
— É mentira! — respondeu Emília, jogando confete no ar.
A noite avançava, e a fogueira crepitava no terreiro. Crianças imaginárias de outros mundos vinham chegando, trazidas pela magia do sítio, encantadas com a festa. Tinha pescaria, correio elegante, pau de sebo e até casamento matuto, com Narizinho vestida de noiva e o Visconde, todo envergonhado, como padre.
Dona Benta fechou os olhos por um instante, ouvindo o som da sanfona, e pensou: Não existe alegria mais doce que um São João bem celebrado, com quem se ama por perto.
E assim, sob a lua cheia e entre risadas, balões coloridos subiram ao céu, levando com eles um pouco da magia do Sítio e o calor do coração nordestino.