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Semente da delinquência

Satanás aquece o Inferno à espera dos profetas do golpe

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo/Valter Campanato - ABr

Sábio e inesquecível para uns, visionário para outros e, já que seu corpo nunca foi encontrado, imortal para todos, Ulysses Guimarães disse certa vez que “A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou o antagonismo do Estado”. Pinçada de um discurso anterior à promulgação da Constituição de 1988, a frase pode – e deve – ser juntada a uma outra também célebre e futurista do ex-deputado: “A história nos desafiará para grandes serviços, nos consagrará se os fizermos e nos repudiará se desertarmos.” Trinta e cinco anos após a Carta Magna e depois de um governo absolutamente antagônico daqueles que sonham com a liberdade, vivemos em um novo Brasil.

Didaticamente, vencemos a inércia e não desertamos diante do apetite e do cabritismo golpista do incontinente e imbrochável ex-presidente e de seus amargos seguidores, os quais, ainda que temporariamente, conseguiram dividir politicamente os brasileiros em duas classes: instrumentos e inimigos. Conscientemente, marchei entre aqueles que preferem a troca de políticos de tempos em tempos. Além de evitar as inevitáveis porcarias, temos a chance de encontrar alguém que priorize servir ao povo e não a si mesmo. Nos quatro últimos anos, o Brasil só progrediu à noite, justamente quando a maioria dos políticos dormia.

Os demais passaram todo esse tempo articulando um golpe que não veio, mas, deliberadamente, causaram transtornos, vergonha internacional e incalculáveis prejuízos físicos, econômicos e simbólicos à República. Chegou a hora da cobrança. E dessa vez pela dor. Com pelo menos oito meses e meio de atraso, o Supremo Tribunal Federal, em sessões extras, começa a julgar amanhã (13) a barbárie de 8 de janeiro. Dos 1.390 já denunciados, 100 réus deverão ser julgados (condenados) até o fim do mês. Quatro articuladores e executores começam a sentir o gosto amargo da força entre quarta e quinta-feira (14). Todos respondem pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

A partir das imagens amplamente divulgadas pela mídia brasileira e independentemente dos depoimentos muito parecidos, o que se espera é que a pena seja exemplar. Sem detalhar o rito do STF, os ministros certamente avaliarão a repercussão social dos atos cometidos pelos talibãs bolsonaristas. A avalanche de provas seguramente será uma dedada tripla na próstata inflamada dos seguidores do genocida fardado. Sem perdão, o que o Al Capone do Cerrado e seus fiéis depositários queriam, além de derrubar os pilares da democracia, era manipular a vontade de pessoas humildes e sequestrar instituições do Estado.

Deram com os burros n’água e hoje se afogam em lágrimas no cárcere ou na inelegibilidade. Graças à evolução tecnológica e humana, a Justiça no Brasil aos poucos vai deixando de ser cega. Bússolas da loucura jurídica, o descaso, a omissão, o corporativismo, a impunidade e a negligência perderam a luta para a obediência à legalidade constitucional. Em que pese meus princípios cristão e meus posicionamentos diários em defesa do ser humano, não há hipótese de, religiosa ou politicamente, deliberar em favor daqueles que atentaram contra instituições da República e a Ordem Democrática, duas das grandes obras de Ulysses Guimarães. Em verdade, jamais acolherei falsos profetas que cometem crimes e covardias bestiais, cegas e surdas em nome de Deus.

Seria o mesmo que virar refém da marginalidade oficial. Por isso, minha tese é a mesma de 8 de janeiro: todo castigo é pouco para quem só pensa em si. No atual contexto de céu de cor púrpura (a cor da magia e da transformação), crimes são crimes. Portanto, temendo pela segurança do Satanás, que os patriotas do “capetão” sofram no inferno o que nos fariam sofrer caso fossem vencedores da barbárie da Praça dos Três Poderes. Se a ocasião realmente faz o ladrão, que eles aproveitem as férias forçadas, repensem os votos em quem fez germinar a semente da delinquência e tentem conversar com suas consciências, o único juiz que não perdoa ninguém. Só para lembrar, na segunda-feira (11) o mundo voltou a chorar pelos mortos da tragédia de 11 de setembro de 2001 e pela morte do ex-presidente chileno Salvador Allende, assassinado pelo ditador Augusto Pinochet no dia 11 de setembro de 1973. O que seria sido de nós com o golpe liderado por um aprendiz de feiticeiro?

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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