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Quem contra quem?

Saúde de Lula e vazio na oposição deixam eleição do próximo ano aberta

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso - Foto de Arquivo

A eleição de 2026 está a menos de dois anos. O tempo é curto, mas as dúvidas são enormes. Para que direção soprará o vento da política em 2026? Atento à velha tese ulyssista de que política é a arte do possível, acho que tudo pode acontecer na eleição de 26. Como o nada também deve ser incluído em qualquer aposta eleitoral, quem sabe não surge um anjo pirata com capacidade de substituir todos os que estão fincados nos divididos corações e nas fanatizadas mentes dos eleitores brasileiros. O que me parece certo é que, ainda que as interrogações sejam muitas, o besteirol da polarização entre patriotas e não patriotas está por um fio.

Ou seria pelo chamamento de algum anjo da guarda? Digo isso com base na certeza da definitiva evaporação político-partidária de Jair Bolsonaro. Por mais que ainda o tratem como mito, líder, chefe, o dono do pedaço ou coisa que o valha, o fato é que ele é carta fora do baralho. Acabou, morreu. Nada muito diferente da insuspeita saúde de Luiz Inácio. Uma possibilidade bastante remota é o ressurgimento da extrema direita como força política. Outra hipótese complicadíssima é a união da direita menos raivosa e sem densidade eleitoral às propostas antidemocráticas em torno de um nome único para substituir Bolsonaro na disputa presidencial.

Embora veladamente, os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Júnior (PR), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO) são candidatíssimos ao Palácio do Planalto. A pergunta que não quer calar é simples. Quem Bolsonaro, sua trupe e seus seguidores apoiarão sem ferir a suscetibilidade dos bajuladores que se sentirão abandonados? Como o discurso de ódio está enraizado entre os bolsonaristas, qualquer que seja o escolhido passará a ser excomungado pelo preterido e, obviamente, pela maioria de seus eleitores.

Nesse caso, caberá a Gilberto Kassab, o todo poderoso dono do PSD, unir o que restar do extremismo à sua direita menos conservadora. Mantida a desunião, quem lucrará? Certamente os que não têm nada com a história de oba oba à figura opaca e perniciosa do ex-presidente. Seria a esquerda comandada pelo saudável (?) Lula da Silva? Provavelmente. No entanto, na suposta ausência de Luiz Inácio, quem é a bola da vez? Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann ou dona Janja? Como os três não dispõem de votos para uma peleja tão grandiosa, hoje não apostaria em nenhum deles.

Trabalhando com a hipótese da ausência de Lula, sobra o que boa parte dos petistas da cúpula e da planície tem para dar e vender: a soberba. Por conta dela, dificilmente os chamados progressistas avaliarão Geraldo Alckmin, atual vice-presidente da República, como opção para 2026. É uma hipótese que jamais será posta à mesa, seja ela vertical, horizontal, quadrada ou retangular. Portanto, independentemente de tudo e de todos, mais uma vez sobrará para o presidente da República a tarefa de liderar a turma petista para a guerra que se avizinha. Isso se a saúde aguentar.

Como a batalha dependerá do comportamento futuro da direita, Luiz Inácio poderá ou não nadar de braçada rumo ao Lula 4. Conservadores que detestam conflitos duvidosos, já começam a se bandear para o lado do líder do PT. Como não tenho lado, entendo que o leque de dúvidas ainda está por ser totalmente aberto. Por exemplo, considerando o quadro de hoje, será que Lula terá condições físicas para a contenda presidencial? Muitos acham que sim. Meu ceticismo fala mais alto, mas reitero que o que não é possível é provável. Com todas as vacilações naturais de um ser humano normal, por enquanto só estou seguro em relação ao pêndulo do eleitor. Conforme o vento, ele balança claramente entre um doente da cabeça e do corpo e um doente de amores. Janja que o diga.

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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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