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Retrospectiva

Se for ao Grand Palais, não deixe de ver Tintim

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Sheila Leirner

Imagine uma exposição que desenrola todos os talentos do pai de Tintim por meio de sua coleção de arte contemporânea, objetos de infância e inspiração, pinturas de sua autoria influenciadas por Miró, Klee, Dubuffet e Modigliani, cadernos, croquis, revistas, pôsteres e peças publicitárias, quatro centenas de desenhos e pranchas originais, entrevistas, escritos, documentos e vídeos.

A isso junte testemunhos como o do filósofo e historiador Michel Serres, murais de quadrinhos, maquetes, filmes, fotos, desenhos animados e jornais de época.
Tudo isso em 2 mil metros quadrados, 10 salas temáticas, dentro de uma cenografia prodigiosa, com música da época nas escadas e muitas paredes transversais cobertas de cenas das histórias em quadrinhos.

De tirar o fôlego, não? Pois essa é a aventura que o Grand Palais inaugurou esta semana (até o dia 15 de janeiro de 2017), na tentativa de decifrar a arte de Hergé (1907-1983), desenhista que esgotou todas as possibilidades de criação, inspirando-se em outros cartunistas, países, regimes, civilizações antigas e primitivas. Aventura que contradiz um pouco, entretanto, o famoso slogan “de 7 a 77 anos” inventado por ele. Aqui, é o público da terceira idade que se deleita, apesar de que haja até mesmo um lugar especial para selfies.

Esta imensa retrospectiva revela igualmente o processo criativo do mestre, a influência que tiveram sobre ele diferentes formas de arte como o cinema, a fotografia e também as ilustrações de Benjamin Rabier (autor da famosa “vaca que ri”).

O próprio Georges Rémi – seu verdadeiro nome – está presente em documentos escritos e gravados onde conta o seu percurso, suas escolhas e fala sobre técnicas e procedimentos. Em uma entrevista dos anos 1960, por exemplo, revela que a origem do seu pseudônimo deve-se às iniciais invertidas “RG” (de Georges Rémi), cuja pronúncia é “Hergé”.

Hergé é Tintim, claro! O positivo e modelar herói loiro de topete da nossa infância e juventude, repórter no qual nos projetávamos, e seu cachorro Milu – com mais de 250 milhões de álbuns vendidos, traduzidos em 110 línguas – mesmo quando não podemos dizer que fomos ou somos verdadeiros “tintinófilos”.

Isto, embora o personagem tenha sido criado em 1929 e constitua apenas a parte mais visível de uma obra com outras figuras e uma grande invenção, a famosa “linha clara”: o estilo de desenho que usa um só traço negro em torno das imagens e que influenciou até mesmo a Pop art.

Além da centena de personagens – entre as quais estão o Professor Girassol, Dupond e Dupont, Bianca Castafiore, Nestor, Rastapopoulos, Dr. Müller -, na mostra se vê uma réplica do castelo de Moulinsart, residência do Capitão Haddock, calcada no castelo de Cheverny. E por falar neste marinheiro, os curadores foram felizes na criação da sua página Twitter com um “gerador de insultos”. Assim, se você tiver uma veia um pouco masoquista e quiser ser injuriado(a) em francês de “Bachi-bouzouk!”, “Bugre falso ao molho tártaro”, “Espécie de cabra mal penteada”, “Coloquíntida com gordura de porco-espinho” ou “Ectoplasma de rodinhas”, basta seguir o vociferador, mencionar o nome dele precedido de um @, utilizando o #tag #capitaineHaddock.

Entre os 600 livros que foram consagrados a Tintim, Albert Algoud, autor do volume integral dos xingamentos do Capitão (Ed. Casterman, 2014), e que acaba de lançar o Dicionário amoroso de Tintim (Ed Plon), esclarece a questão da batalha entre célinianos e tintinófilos, sobre a paternidade dos palavrões.

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