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Um muscial

Se meu apartamento falasse provoca muitas gargalhadas

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Ubiratan Brasil e Marcelo Médici

Era 2010 e a atriz Maria Clara Gueiros, que estava em Nova York, assistiu ao musical Promises, Promises e, ao sair, estava determinada: compraria os direitos para montar o espetáculo no Brasil. Curiosamente, no mesmo ano, Charles Möeller e Claudio Botelho, responsáveis por montar boa parte dos grandes musicais encenados no País, também se emocionaram com aquela versão para a Broadway de um clássico do cinema, a comédia Se Meu Apartamento Falasse…, de 1960. “Todos sonhávamos com uma versão brasileira, o que só aconteceu no final do ano passado”, conta Maria Clara.

De fato, a estreia aconteceu em dezembro, no Rio, e, depois de uma rápida temporada, Se Meu Apartamento Falasse… chega a São Paulo no próximo domingo, dia 21, no Teatro Santander. E o que tanto encantou esses artistas? “O musical surgiu a partir da união de vários talentos”, explica Möeller, responsável pela direção. “Se, no cinema, a história foi criada por um gênio, Billy Wilder, a versão no palco tem uma assinatura também nobre: a do dramaturgo Neil Simon.” O mesmo acontece com as melodias, como observa Botelho: “A música é de Burt Bacharach, com letras de Hal David, ou seja, a sofisticação do texto de Simon é bem acolhida por canções com incríveis harmonias, que bem traduzem emoções no universo pop.”

Tudo bem alinhavado para contar uma história que, apesar de seus 58 anos, continua atual. Trata-se das desventuras de Chuck Baxter (Marcelo Médici), um atrapalhado contador que empresta seu apartamento para os encontros amorosos dos colegas do trabalho em troca de favores e promessas de promoção. Até o presidente da empresa, J. D. Sheldrake (Marcos Pasquim), utiliza a garçonnière para namorar a ascensorista Fran Kubelik (Malu Rodrigues), imigrante polonesa que não percebe a paixão de Baxter por ela.

“Neil Simon não traiu o original de Wilder, mantendo quase fala por fala. Na verdade, ele acrescentou camadas aos personagens, pois todos têm sua história própria”, explica Möeller que, como de hábito, se aprofundou em todos os detalhes históricos da produção. “Isso foi decisivo para que entendêssemos as intenções do texto no pouco tempo de ensaio”, acrescenta Médici.

Realmente, a preparação foi enxutérrima (quatro semanas) por conta do baixo investimento que não passou de R$ 1,3 milhão, apenas 20% do autorizado a captar pela lei de incentivo. “Não tínhamos a chance de errar”, diverte-se Maria Clara, que se interessou em fazer um papel pequeno, mas marcante: Marge Macdougall, a bêbada que Chuck conhece em um bar. “São só duas cenas, no início do segundo ato, mas é uma piada atrás da outra”, conta ela, aplaudida merecidamente em cena aberta.

Maria Clara também assina a tradução do texto, ao lado de Edgar Duvivier, pai de Gregório, que ambicionava o papel de Chuck, mas não conseguiu acertar agenda. Foi um trabalho delicado, que eles compartilharam com Claudio Botelho, responsável pela versão brasileira das canções. “Enquanto Simon adotou um tom filosófico, buscando o espírito do filme, Hal David criou letras simples, mas inusitadas, com rimas internas e acidentes linguísticos quase intraduzíveis”, explica Botelho.

Um dos grandes desafios foi traduzir a música Christmas Party – Turkey Lurkey Time, cujo andamento incerto é marcado por uma lista nonsense de referências natalinas. “Na dúvida, ligamos direto para Burt Bacharach, que disse simplesmente: ‘Turkey Lurkey não tem significado, apenas é uma boa rima'”, diverte-se Maria Clara. “Decidi criar um trava-língua, que une um Papai Noel com Pernambuco”, emenda Botelho.

Como você vê seu personagem, Chuck Baxter?

É um personagem naïf. Ele se diz ambicioso, mas acho que é mais um homem apaixonado. Chuck não consegue dizer ‘não’ para os colegas de trabalho e depois se arrepende. É um personagem cômico, patético, um homem que não consegue se colocar no mundo

Como foi o trabalho de criação?

Eu me lembrava do trabalho do Jack Lemmon no filme. Mas busquei também o humor de Jerry Lewis.

Na verdade, sua atuação me fez pensar em uma homenagem a Marco Nanini, na forma engraçada e tresloucada do personagem que ele faz tão bem…

Isso muito me honra, pois Nanini, assim como Marília Pêra, a turma do Asdrúbal Trouxe o Trombone e a da TV Pirata, todos são minha referência de humor quando comecei.

Você conversa com a plateia, o que não deve ser fácil.

Tenho muita experiência por causa do meu show Cada Um Com Seus Pobrema, assim não foi difícil. Não é difícil, pois sou uma vedete mesmo (risos). O que aprendi é que, quando você fala com um, fala, na verdade, com todos.

E como é cantar?

– Nada fácil, pois não sou cantor nem quero gravar CD. As músicas têm ciladas para quem não é cantor. São incríveis, mas difíceis

Apartamento só surge no 2º ato

1. Nas canções que se tornaram clássicos do repertório de Burt Bacharach, como I’ll Never Fall in Love Again, um grande sucesso na voz de Dione Warwick.

2. Na interpretação e na voz inigualável de Malu Rodrigues. Aos 24 anos, é seu 11.º trabalho com Möeller e Botelho. Ela canta em tom mais grave que seu habitual, para não parecer a jovem que é

3. Nos divertidos colegas de trabalho de Chuck, vividos por Fernando Caruso, Antonio Fragoso, Renato Rabelo e Ruben Gabira. “São como cães no cio, verdadeiras caricaturas, quase cartoons”, descreve Möeller.

4. Na pequena, mas marcante participação de Maria Clara Gueiros, como a bêbada Marge. Ela (que eventualmente pode ser substituída por Dani Calabresa) comprova como domina o humor verbal, arrancando aplausos em cena aberta.

5. No cenário em tom sépia, para lembrar a época (anos 1960), criado por Rogério Falcão. Por causa do tempo escasso, ele armou uma oficina embaixo do palco do Rio para trabalhar na carpintaria e pintura das peças.

6. No apartamento que, embora inspire o título do espetáculo, só aparece mesmo no segundo ato.

7. Na forma aberta com que Neil Simon e Billy Wilder tratam de temas delicados como adultério.

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