Desafios diários
Se problema do Nordeste fosse seca, bastava uma chuva. Mas…
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O Nordeste do Brasil não cabe em rótulos. É vasto como o horizonte do sertão, profundo como o mar que beija o litoral e diverso como as vozes que ecoam nas feiras, nos terreiros, nas praças e nos becos das cidades grandes e pequenas. Falar do povo nordestino é falar de desafios antigos, mas também de riquezas que resistem ao tempo e às adversidades.
Há desafios que insistem em permanecer. A seca, quando chega, não pede licença. Castiga a terra, testa a paciência e exige criatividade para sobreviver. A desigualdade social, herdada de um passado de concentração de renda e abandono histórico, ainda limita sonhos e oportunidades. Em muitas comunidades, o acesso a serviços públicos de qualidade continua sendo uma luta diária. Mas o nordestino aprendeu cedo que desistir não é opção.
E é justamente aí que mora uma de suas maiores riquezas: a capacidade de transformar dificuldade em força. Onde falta água, sobra engenho. Onde o dinheiro é curto, a solidariedade se alonga. O pouco vira muito quando repartido, e o sofrimento encontra alívio na conversa à sombra, no café coado, na risada que teima em nascer mesmo nos dias duros.
A riqueza do Nordeste não está apenas no solo fértil de algumas regiões, nem no turismo que encanta o mundo. Está na cultura viva, pulsante, que se renova sem perder as raízes. No forró que embala histórias de amor e saudade, no repente que denuncia injustiças com poesia afiada, no artesanato que carrega identidade em cada traço. Está na culinária que transforma ingredientes simples em sabores inesquecíveis, cheios de memória e afeto.
O povo nordestino carrega fé no peito — seja ela rezada em igrejas, celebrada em terreiros ou silenciosamente guardada no coração. Fé que sustenta, que levanta cedo, que ensina a esperar sem parar de lutar. Fé que não anula a dor, mas ajuda a atravessá-la.
Entre desafios e riquezas, o Nordeste segue em movimento. Cresce, se reinventa, afirma sua importância econômica, cultural e humana no Brasil. E seu povo, tantas vezes injustamente reduzido a estereótipos, segue mostrando que é feito de coragem, inteligência, sensibilidade e orgulho.
Porque ser nordestino é, acima de tudo, resistir sem perder a ternura, lutar sem esquecer a alegria e seguir em frente carregando no peito a certeza de que, apesar dos muitos desafios, as riquezas do Nordeste moram, sobretudo, em seu povo.