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Relógio parado

Se tudo der certo, voltamos à normalidade em outubro

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Será que um dia o Brasil voltará à normalidade? Ainda não bati o martelo, mas aposto que sim. Apesar de alguma dúvida, a pergunta feita por um cidadão comum em uma fila de banco me chamou atenção. Tive vontade de urrar que sim, de afirmar que a tendência é que a esperança novamente vença o medo. Desconhecendo o interlocutor, motivado pelo silêncio consciencioso da maioria e sob o guarda-chuva da tolerância, preferi dar a resposta por meio de um olhar cuidadoso e de um sorriso inspirador. Ambos foram entendidos. Ficou claro que, diante de estranhos, o melhor caminho é mesmo se fingir de morto. Usei a velha premissa de que quem fala demais dá bom dia a cavalo.

Meti a viola no saco e optei por outro axioma verdadeiro e também antigo: peixe morre é pela boca. Enquanto buscava opções, lembrei dos ensinamentos do avô paterno. Do alto de sua experiência portuguesa de 88 anos, diariamente ele me recomendava atenção. Parecia instrutor de escoteiros pedindo para que me mantivesse sempre em posição de alerta. Era assim até mesmo em família. A recomendação mais estridente era sobre o respeito e a preocupação com os silenciosos, os tipos amineirados.

Dizia que não precisava ter medo dos que se sublimam, porque esses, embora costumem agir somente nas sombras, nas soleiras, não conseguem se sobrepor sem escoltas, sem seguidores fanáticos ou malandreados. São os tipos líderes de seitas. O resumo da ópera quase bufa do velho é muito simples, burlesco e até cômico: longe da matilha, cão que ladra não morde. Em outras palavras, quem fala muito, grita, ameaça, geralmente não faz nada. Obviamente que não é de bom alvitre subestimar os xingamentos de sua alteza em sua cruzada genocida pelo acento principal do Palácio do Planalto.

Entretanto, como ricos e poderosos não estão imunes às leis, interessante lembrar que rir é muito bom, mas rir de tudo é sinal de desespero. É o que vem acontecendo no Brasil ainda anormal. Sinceramente, não sei porque chegamos próximo ao fundo do poço justamente sob o jugo de um mandatário que só não disse que faria chover. Ruim do ponto de vista administrativo e péssimo no quesito trato social, impressionante como, sozinho, esse líder consegue produzir uma carrada de fatos contra ele mesmo. Não precisa nem, do olhar afogueado dos “amigos”. Por tudo isso, é claro que, em breve, voltaremos à normalidade.

Por enquanto, ficamos com a teoria do imortal Sérgio Porto, o grande satírico da sociedade brasileira. Assinando Stanislaw Ponte Preta, ele se utilizou de um humor sarcástico e cortante para rir de nossas idiossincrasias. Em uma de suas frases mais famosas, Ponte Preta (torcedor fanático do Fluminense) disse – e ninguém até hoje desmentiu – que “Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele”. É a mais pura verdade. E não adianta remoer tristezas e problemas. Temos de trabalhar por um Brasil sem retrocessos.

O que não tem remédio, remediado está. Respondendo tardiamente o cidadão do banco, obviamente o Brasil voltará à normalidade. Não podemos mudar o passado, mas temos o dever de, usando de nossas experiências mal sucedidas, fazer um presente e um futuro diferentes. Acreditemos em nós mesmos, no nosso potencial e na vida. Se tudo der certo, outubro está bem mais próximo do que pensamos. Como os números não metem – no máximo se enganam dois prá e dois prá cá -, aí começarão as mudanças. Não há hipótese de continuar retrocedendo. O relógio do Brasil está parado há três anos e sete meses.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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