Dois lados
Seca e esperança mudam a realidade multifacetada do Nordeste
Publicado
em
O sol nasce forte, sem pedir licença, riscando o céu com tons de fogo. No sertão, ele não é apenas um astro — é presença constante, quase personagem das histórias que ali se desenham. A terra, rachada e sedenta, guarda segredos de um povo que aprendeu a viver entre o que falta e o que sobra: falta de chuva, sobra de coragem.
A seca chega silenciosa, mas o seu impacto ecoa em cada canto. O gado magro procura sombra, as plantações murcham, e o chão levanta poeira como se gritasse por alívio. Ainda assim, no meio da aridez, brota algo que nem o sol consegue queimar: a esperança.
É ela que faz o sertanejo olhar para o horizonte e acreditar que o verde vai voltar. Que o rio seco há de correr de novo, que o barro vai virar barro fértil, e que a chuva — sempre prometida — vai cair, lavando não só a terra, mas também as almas cansadas.
No Nordeste, a seca não é só tragédia: é também prova, aprendizado e resistência. É dela que nascem os versos, os cantos, as orações e a fé que move montanhas. O povo nordestino não se define pela dor que enfrenta, mas pela força com que recomeça.
Porque no sertão, até a esperança tem raízes profundas — e mesmo quando o chão racha, ela insiste em florescer.