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Lógica da desigualdade

Seca, falta de água e vida precária viram drama no sertão nordestino

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Autor/Imagem:
Acssa Maria - Foto de Arquivo

O sol nasce impiedoso no sertão, desenhando na terra rachada a geografia da desigualdade. Cada fenda no chão parece contar uma história de espera — espera pela chuva, pela ajuda, pela mudança que nunca chega. No sertão nordestino, a seca não é apenas um fenômeno natural: é um retrato social, uma lógica cruel que separa quem tem daquilo que falta a tantos.

Na beira do açude seco, dona Maria olha o horizonte como quem procura respostas. O balde vazio em suas mãos pesa mais que a própria água que ela sonha em carregar. Já aprendeu a conviver com a sede, mas não se acostuma com a injustiça. Enquanto alguns poucos têm poços artesianos e água encanada, outros caminham quilômetros em busca de um fio d’água barrenta para sobreviver.

As crianças brincam com o pouco que resta: fazem castelos de poeira, correm atrás do vento. E mesmo no meio da escassez, há risos — porque o sertanejo aprendeu a sorrir entre as dores. Mas há também um silêncio que grita: o da desigualdade que insiste em perpetuar a seca como destino, e não como resultado do descuido humano.

Quando finalmente chove, o chão festeja, o povo agradece e a esperança renasce — mas por pouco tempo. As promessas de políticas duradouras evaporam junto com as poças d’água, e o ciclo recomeça: seca, sede, sobrevivência.

O sertão, que poderia florescer com o cuidado certo, segue resistindo à lógica de um país que esquece seus interiores. Ali, onde a água é luxo e a vida é luta, o povo continua tecendo dias com fé, coragem e a convicção de que um dia a justiça há de brotar, mesmo em terra seca.

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