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Tese do fracasso

Sem atender povo, CPI do Crime Organizado pode ir para o arquivo morto

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Arimathéia Martins - Foto Lula Marques/ABr

Oo governo federal apresentou para discussão a PEC de Combate ao Crime Organizado. Os governadores vinculados ao bolsonarismo ficaram contra, porque temiam perder a autonomia da segurança de seus estados. Após a mortífera megaoperação do governador Cláudio Castro no Rio de Janeiro, com 121 mortos, o Senado instalou do dia para a noite a CPI do Crime Organizado. Como tudo que é ruim pode ficar pior, a CPI virou o novo foco de conflito entre oposição e situação no Congresso.

Tudo porque os partidos de direita não aceitavam a indicação de um petista para a presidência dos trabalhos. Não aceitavam, mas tiveram de engolir goela abaixo o senador capixaba Fabiano Contarato. O argumento barato dos conservadores é que há risco de forte ingerência política do presidente Lula nas investigações sobre facções e milícias. A recíproca seria verdadeira caso fosse alguém de algum partido de oposição. Desde que não haja pirotecnia, falácias, retóricas hipócritas e fanfarras bolsonaristas, a CPI talvez avance. O problema é o desfecho.

Temo que, mesmo que vá adiante, a CPI, instalada nessa terça-feira (04), tenha o mesmo destino de todas as demais: o arquivo morto do Senado. Como a comissão já começou tensionada, dificilmente seus integrantes pensarão, de fato, em debater benefícios ou segurança para a população. Infelizmente, hoje a prioridade de boa parte do Parlamento não é o povo, mas sim os próprios parlamentares. É bom lembrar que não faz muito tempo que a direita, por meio de uma PEC, tentou blindar deputados e senadores de processos criminais.

A ideia dos idealizadores da PEC era proteger autores de crimes graves, como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Algo diferente do que faz diariamente a meninada bandida do Comando Vermelho, do PCC ou de grupos similares? Apesar de polêmica e absurda, a criminosa proposta ganhou aval da grande maioria dos deputados da direita bolsonarista. Para os esquecidos, foram 353 votos a favor e 134 contra, ou seja, uma boa margem acima dos 308 botos necessários para aprovar uma alteração na Constituição.

Embora haja empenho maior da bancada progressista, tudo indica que o histórico confronto entre os dois polos políticos do Brasil tem por objetivo nada resolver para ajudar no combate à bandidagem brasileira. Sem narrativas negativas ou ideológicas, eu não creio que um Congresso manifestamente inimigo do povo esteja preocupado em desfazer a tese de que a morte evidencia um retumbante fracasso do Poder Público. As comemorações em torno dos 117 “bandidos” mortos no Rio de Janeiro comprovam isso. Para Castro, rendeu votos a transformação das ruas da cidade em um necrotério a céu aberto.

Enquanto o governador Cláudio Castro continua reunindo a turma de governadores do caos para brindar o sabor do horroroso “sucesso” da operação e anunciar sua candidatura ao Senado em 2026, as lideranças do Comando Vermelho riem da cara deles e, involuntariamente, estimulam o duelo ideológico entre apoiadores da direita e da esquerda. Castro e sua trupe comemoraram, mas esquecem de dar ao povo fluminense o que o crime organizado empresta a juros e correção monetária. Considerando que botar lenha no colegiado pode significar cortar na própria carne, a CPI deverá andar como a PEC da Segurança: para trás. Caso ande para frente, certamente vai empacar como um cavalo chucro.

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