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O crime compensa

Sem Odete Roitman, quem dará aquela banana (ou o dedo) para o Brasil?

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Sempre cético e cada vez menos crente em relação à satisfação plena do povo brasileiro consigo mesmo e com as coisas do país, me lembro de uma tese que aprendi com meu avô Aristarco Pederneira. Conforme o velho, no país onde a maioria só copia o que não presta, todo dia é 1º de abril. Ou seja, como se a vida fosse uma novela cheia de capítulos, o ideal é ser o vilão da história, pois normalmente ele é o último a sofrer. Morrer, nem sempre é preciso. Enfim, seguindo os conselhos de vovô, como diretor da minha vida, eu mesmo escolho o fim que essa novela deve ter. Certo?

Claro que não! Estou falando na primeira pessoa, mas acho que posso incluir Odete Roitman na narrativa. Na verdade, devo incluí-la. A personagem é a prova inequívoca de quem busca maestria para contar a história dos outros, deixa claro que não tem história para ser contada. Reiterando meu ceticismo, não sei porque, mas tenho certeza de que o destino ainda vai trazer grandes surpresas para a vilã mais amada do Brasil. Para mim também. Temos até sexta, 17, para saber.

Antes de prosseguir, devo confessar que herdei pouca coisa de meu avô Aristarco Pederneira. Rústico, rural e, por isso mesmo, rude, ele dizia frequentemente que homem com H só assistia faroeste, filmes pornôs japoneses e chamadas do mundo cão. Criado entre mulheres – mãe, avó, tias e irmãs -, desde cedo me acostumei com as novelas, cujos enredos eram mais longos, mas não tão chatos como os de agora.

Janete Clair, Dias Gomes, Glória Magadan, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Odorico Paraguassu, Coronel Belarmino, Sassá Mutema, Sinhozinho Malta, Roque Santeiro, Zeca Diabo, Dirceu Borboleta, a primeira Odete Roitman e a Viúva Porcina, entre outros, fazem parte de minha literatura de cabeceira. Acrescento que, apesar do novelismo nas veias, me mantive acima de qualquer suspeita. Como não preciso provar nada a ninguém, meu lado feminino (pouquíssimo usado, diga-se de passagem) sugere que voltamos à época em que apenas o macaco se dependurava no pau com o rabo.

Como sei que tem muita testa oleosa achando que é mente brilhante, antecipo que nada de homofobia. Quero apenas me manifestar contra o povo de neurônios marombados que perseguem os noveleiros. Sou, mas quem não é. Eles também são, mas não assumem. Mistééééério! Meu sonho é ver políticos brigando pelo povo com a mesma força que o povo briga por eles nas redes sociais. Enquanto espero por isso, me ligo nas novelas, nas quais até o tiro e a morte são combinados. Não sou autor de folhetins, mas guardei para o fim o que pensei em dizer logo no início.

Como os políticos extremistas, os golpistas estrelados, os patriotas de araque e o ex-presidente zumbi não morrem, Odete Roitman também não morreu. Se ela não morreu, não há assassinos. Sabedor de que uma virada de olho vale mais do que mil palavras, minha afirmação é baseada em outra máxima de Aristarco Pederneira. Democraticamente e sem qualquer reação, os políticos, patriotas e ex-presidentes ruins nos mandam todos os dias para aquele lugar. Se Odete Roitman realmente morreu, qual dos personagens dará a banana (ou o dedo) para o Brasil como prova de que aqui o crime compensa? Marco Aurélio perdeu o bonde. Gente, vou ver minha novela. Quem precisar de mim, por favor desprecise. Quero ver onde enfiaram Odete Roitman. Tichau! F, O,I, fui!

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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