Coração nordestino
Sertanejo vive entre a saudade e a longa seca
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No coração do sertão, o tempo parece caminhar mais devagar. O sol nasce cedo, abrasando a terra rachada, e o vento sopra poeira e lembranças. Ali, cada olhar guarda uma história, cada ruga é um mapa de resistência. O sertanejo aprende cedo que viver é um ato de coragem — e amar, um milagre cotidiano.
A seca castiga, sim, mas não vence. No chão esturricado ainda brota esperança, teimosa como o mandacaru que floresce em silêncio, desafiando o impossível. As chuvas, quando vêm, são recebidas como festa. Crianças correm descalças pelas poças, e o cheiro de terra molhada faz o peito se encher de fé — uma fé que não se explica, só se sente.
Mas o sertanejo também carrega saudade — dessa que aperta o peito e molha os olhos, mesmo sem lágrimas. Saudade da terra deixada, dos amores que ficaram, do rio que secou. É uma saudade antiga, que mora junto com o orgulho e a força de quem nunca desiste.
No sertão, o coração bate diferente. Bate compassado com o aboio distante, com o mugido do gado e com o cantar do galo ao amanhecer. É um coração que pulsa entre a dureza e o afeto, entre o sol que queima e a lua que consola.
E, mesmo entre a seca e a saudade, o sertanejo segue. Planta sonhos na aridez, colhe esperança no tempo, e continua acreditando que amanhã — ah, o amanhã! — sempre pode ser melhor. Porque o coração do sertão, embora calejado, nunca deixou de amar.