Curta nossa página


Ocaso político

Sete de Setembro confirmará tese que há luz no fim do túnel

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo/Via Alma de Viajante

Mais do que a boa lembrança dos desfiles cívicos de outrora, o Sete de Setembro deverá marcar o ocaso político do presidente Jair Messias, aquele que foi sem nunca ter sido. Claro que teremos manifestações bestiais, odiosas e repugnantes do ponto de vista político. Certamente a maioria dos atores estarão fantasiados de diabinhos, duendes e, quem sabe, de capetões travestidos de pastores evangélicos, tratoristas e alguns motociclistas.

A ordem é criar um cenário de guerra, principalmente em Copacabana, no Rio de Janeiro. E por que em Copa? Elementar, meu caro Watson. Trata-se de uma das praias mais famosas do planeta, com expectativa de grande público, provável suporte de setores das Forças Armadas sediados na cidade e, principalmente, com o visual propício para imagens aéreas e terrestres capazes de impressionar os incautos ao redor da Terra.

Nesse palco criado por pessoas desacostumadas a aceitar derrotas, talvez vejamos de tudo um pouco. O certo é que o enredo anunciado há meses será o golpe. O risco de exacerbações é grande. Poderemos virar notícias pra lá de negativas no mundo inteiro. O presidente sabe disso, mas pouco está se importando. Seu desejo é ver o circo pegando fogo. Movimenta a militância soberba e arrogante com esse objetivo. A intenção é atacar adversários e as instituições, como aconteceu em 2021. O clima é favorável a tragédias. Também isso não importa ao mandatário brasileiro. É um prazer mórbido daqueles que só pensam em si. A possibilidade da tragédia não é pequena. Aí, o risco será dele. O Brasil e o mundo não se curvarão à sua sanha ditatorial.

Rememorando 2021, aquele Sete de Setembro virou símbolo do fim da fase mais raivosa do capitão presidente. A data entrou para a história como o dia que não terminou. Nenhuma alusão a 1968, quando a passeata dos 100 mil na Cinelândia, no Rio de Janeiro, contribuiu para que, em 13 de dezembro, o ano fosse brutalmente interrompido pelo AI-5, o mais terrível dos instrumentos dos ditadores. Apesar da forçada interrupção, há um lugar na história sobre as consequências daquele período: 1968 mudou o mundo. Guardadas as devidas proporções, o último Dia da Independência ficou marcado pela certeza de que temos luz no fim do túnel. O deste ano confirmará a tese. Será o reinício político do país.

Para quem esperava sair de Brasília, de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de qualquer outra capital nos braços do povo e coroado imperador do Brasil em 2021, sobrou a melancólica convicção de que as manifestações bolsonaristas serviram de estímulo para que autoridades dos demais poderes também se rebelassem. Os protestos dos simpatizantes embandeirados mostraram que as ruas não pertencem somente a grupos de marionetes. A força delas depende de todos. E a maioria esmagadora dos brasileiros preferiu lutar de casa. Ao contrário de tomar o poder pela força e de fechar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, o brado geral e unificador era um só: abaixo a ditadura e viva a democracia. Exatamente como em 1968. As convergências não param por aí.

Como lá (em 1968), cá também será lembrado como o momento em que a vontade geral se juntou (e novamente se juntará neste Sete de Setembro) em torno de objetivos comuns. E mostrou que as mudanças podem acontecer quando há compatibilidade de propósitos. Tudo a ver com 2022. Vivemos um período de incertezas e de descontentamento generalizado. Protestando nas ruas ou batendo panelas nas janelas ou varandas de apartamentos, a busca por novos rumos está no coração de pelo menos dois terços dos 213,3 milhões de brasileiros. Precisamos lavar novamente a alma. Lavamos em 1985, com a ascensão de José Sarney como o primeiro presidente civil pós-1964, e enxaguamos em 1989, ano da primeira eleição direta depois da ditadura, consequentemente da chegada de Fernando Collor à Presidência da República.

Não foi o que de melhor nos ocorreu. Na verdade, foi terrível, mas foram os primeiros passos da democracia pela qual devemos lutar dia e noite. De 1968 até hoje experimentamos fatos e mudanças inesquecíveis. Numerosos líderes da política regional, nacional e mundial ficaram pelo caminho. Alguns tiveram de trocar a pompa e o traje de gala por roupas simplórias de cidadão comum e, por algum tempo, por uniformes de presidiário. Outros ainda clamam por “justissa” (assim mesmo com dois esses), a fim de reparar erros que juram não ter cometido.

Personalidades milionárias que se achavam mitos se afogaram na arrogância e na prepotência, perderam a presidência da maior democracia do mundo e, não sei por qual razão, acabaram comentaristas de espetáculos de boxe envolvendo lutadores aposentados. Atualmente está no banco dos réus. Pior é o fim anunciado dos que se acham mitos, mas não passam de repetidores de preconceitos e de frases de efeito amplificadas por quem se achava – ou se acha – superior a seu próprio umbigo. Simbologias à parte, defender algo que não se sustenta é o mesmo que apostar no caos.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência Estadão, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.