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Calmaria

Silêncio além da cachoeira

Publicado

Autor/Imagem:
Danfil Barros - Foto Francisco Filipino

Era fim de tarde quando Clara chegou à antiga estação de trem. O céu se apossava de uma cor alaranjada, o vento levantava as folhas secas caídas entre os trilhos enferrujados.

Ela vinha em busca de respostas, ou talvez de lembranças. A mala pequena que trazia não pesava tanto quanto o silêncio que a envolvia.

Num banco de madeira em que faltavam algumas partes, havia um velho de chapéu desgastado que observava o vazio do horizonte de fogo. Clara se aproximou com cautela.

— O senhor conhece alguém chamado Augusto? — perguntou com a voz trêmula.

O velho ergueu os olhos com uma expressão melancólica.

— Conheço sim. Um homem de poucas palavras — ele disse desviando o olhar. — A última vez que eu o vi, ele estava correndo em direção ao sol no campo perto desta estação.

Ela agradeceu com entusiasmo e, pouco antes de sair correndo em direção ao campo, perguntou ao homem o nome dele. Cronos, ele disse. Ela riu baixinho e comentou que era um nome diferente. E sem perder mais tempo correu por dentro do campo de trigo em busca de Augusto, até que chegou a um lugar que misturava intensidade e calma.

A cachoeira enorme fazia um estrondo forte e constante, o que, em contraste com a margem calma, tornava o barulho até mesmo relaxante depois de um tempo.

Augusto estava lá, deitado na margem, descansando apesar do barulho ensurdecedor da cascata.

Clara se aproximou com os ouvidos tampados.

— Augusto, é você, meu irmão!? — ela perguntou.

— Tire os dedos do ouvido, Clara. Você vai se acostumar com o barulho — ele disse calmamente, sem responder ao que ela tinha perguntado.

Clara tirou as mãos do ouvido, sentindo um desconforto inexplicável, e se deitou ao lado do irmão. Mas assim que ela fechou os olhos, o desconforto se tornou aos poucos calmaria, até se transformar em um silêncio absoluto.

Ao abrir os olhos, Clara se viu num ambiente monocromático, deitada numa cama de hospital. Havia flores numa pequena mesa circular ao lado da cama, e cartas que pediam para que ela acordasse logo.

Ela estava em paz, mas tinha o corpo frio e a pele muito branca. Imóvel, descansou por um bom tempo.

Isso é real?, foi a pergunta sem resposta que lentamente foi sumindo da sua cabeça, enquanto uma paz a acolhia.

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